Consultório Financeiro

Como as mudanças climáticas podem afetar os investimentos?

Sou um pequeno investidor preocupado com mudanças climáticas. Como elas podem afetar meus investimentos? Como investir de acordo? A crise do coronavírus altera esse cenário?

Jaques Cohen, CFP®, responde:

Caro leitor,

É comum ouvir que, ao fazer um planejamento financeiro, precisamos ter em mente nossos sonhos e objetivos. Mas você vai além ao falar do impacto social das nossas decisões.

O assunto é relevante mesmo para aqueles que encaram as mudanças climáticas com certo ceticismo. Isso porque elas afetam o ambiente social e regulatório no qual empresas estão inseridas; assim como o fluxo do dinheiro dos investidores.

A sigla para o tipo de investimento que você procura é ASG – em inglês ESG – e faz referência a questões ambientais [A], sociais [S] e de governança corporativa [G].

Nos últimos anos, além de olhar para indicadores tradicionais de investimentos, analistas têm avaliado fundamentos ASG. Não se trata de ingenuidade. O ASG exerce influência e pressão tangível sobre investimentos.

O mundo se prepara para a tentativa de uma economia mais limpa, onde emissões de gases de efeito estufa sejam drasticamente reduzidas. Além de precificar perdas com desastres físicos em si, os investidores precisam contemplar os custos dessa transição, já que cuidados que exigem aporte financeiro precisam ser tomados e reportados.

Brumadinho não chega a ser um caso de mudanças climáticas, mas serve como um exemplo fresco na memória de como questões ambientais afetam uma empresa de forma física e pela pressão por regulação para prevenção.

Em questões sociais, demandas do consumidor estabelecem novos padrões. Ainda este ano um grande banco de investimentos anunciou que não faria mais ofertas públicas de empresas sem mulheres no board.  No que toca a transparência e governança, a situação de algumas empreiteiras pós Lava-Jato fala por si só.

Por isso, caro leitor, questões como as que você trouxe afetam financeiramente todas as empresas, só que as que conseguirem mapear bem os riscos poderão se adequar melhor a nova realidade. Ainda assim, deve-se ponderar os custos destas adequações e o ritmo em que regulações e mudanças vão se dar no mercado.

Sobre as perspectivas diante da crise do corona vírus, há quem espere que a análise de indicadores não financeiros ganhe mais relevância e que a atuação frente a problemas globais acelere. De outro lado, a recuperação financeira passa a ser prioridade – o que traz novos desafios em termos ASG.

Até o momento, a maioria dos estudos mostra uma boa relação risco-retorno do ASG na comparação com outros investimentos. De acordo com eles, você não seria prejudicado por investir conforme suas convicções; pelo contrário, estaria investindo em fundamentos insuficientemente precificados – ou seja, com espaço para valorização.

Hoje já existem informações que permitem ao investidor institucional definir em detalhes os critérios para o que tolera ou não.

Já o pequeno investidor, como você, conta com fundos ASG e pode ter acesso aos critérios deles. Se tiver critérios adicionais, pode fazer uma pesquisa por conta própria – o que, infelizmente, talvez não seja ainda fácil. Aqui, vale lembrar que abrir mão da alternativa de fundos para investir direto em cada papel requer diversos cuidados.

Investindo diretamente ou através de fundos, você tem à disposição diferentes instrumentos – tanto no mercado de renda fixa quanto no de renda variável. Com eles, você pode montar uma carteira diversificada, que leve em conta seus objetivos, perfil de risco e horizonte de tempo – sem se esquecer de um bom planejamento financeiro para atingir uma aposentadoria tranquila. Com meus votos para que chegue lá em uma sociedade mais verde, justa, transparente e saudável.

Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail[email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 06 de abril de 2020

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