Consultório Financeiro

Carregar a NTN-B até o fim é melhor

Aplico regularmente no Tesouro Direto (NTN-B – Principal, vencimento em 15/05/2035). Vejo essa aplicação como minha futura aposentadoria. Contudo, verifico que as taxas de juros atuais são bem superiores às que eu apliquei, de modo que o meu rendimento está bem negativo. 

Gostaria de saber se devo resgatar todas as minhas aplicações e reaplicar novamente na NTN-B – Principal, a fim de aproveitar uma melhor taxa, ou se devo carregar esta aplicação até o vencimento da operação.

Fernando Meibak, CFP®:

Sou forte incentivador, há tempos, de investimentos em títulos do Tesouro Nacional via o mecanismo Tesouro Direto. Os custos são muito favoráveis aos investidores e há uma forte concorrência, especialmente no segmento de corretoras e distribuidoras. Alguns poucos bancos apresentam custos competitivos. 

Os títulos Notas do Tesouro Nacional Série B são os mais indicados para horizonte de tempo mais longo, pois rendem a variação da inflação do índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, mais uma taxa de juros. Você está fazendo muito bem ao escolher vencimentos como o 2035. Há papéis que vencem em 2050 que também podem ser avaliados, dependendo de sua idade. 

Você tem feito investimentos diversos ao longo do tempo, o que é muito positivo, pois representa uma disciplina de poupança e investimento muito saudável. Comprando títulos regularmente você estará construindo um portfólio com uma taxa média que irá refletir as oscilações dos juros ao longo da vida de sua carteira. 

A taxa de juros acima do rendimento do IPCA das Notas do Tesouro Nacional Série B, conhecida como cupom, é influenciada por um conjunto amplo de fatores, tais como a percepção de risco do Tesouro, o tamanho da dívida pública, as condições fiscais das contas públicas, o spread sobre risco de crédito, a política monetária, o fluxo de investimentos estrangeiros em títulos públicos, etc. Essas taxas vinham num processo longo de redução até o primeiro trimestre do ano passado. Por uma série de motivos, tivemos uma deterioração das expectativas sobre a economia brasileira (déficit nas contas externas, inflação, contas fiscais etc.), que, combinada com a elevação da taxa de juros básica pelo Banco Central, em processo que continua vigorando, tivemos uma forte elevação das taxas de juros nos mercados de renda fixa, com forte impacto no cupom das NTN-Bs. Atualmente, as taxas estão acima de 6% ao ano, que é um nível de juros real (acima da inflação) elevado.

É importante que perceba que você adquiriu títulos que rendem IPCA mais juros entre 3,95% e 5,74%. Esses patamares significam uma remuneração entre 10% a 11,92% ao ano (inflação de 5,85% estimada). Você está observando um fator técnico do mercado financeiro chamado de marcação a mercado. Essa “rentabilidade negativa” é contábil. Se você for vender os títulos aos preços atuais, aí sim terá perda. Se preservar os seus papéis até o vencimento, eles irão render IPCA mais os juros definidos no momento em que você adquiriu os papéis. Reforçando: você irá receber no vencimento das NTNs o rendimento de 3,95% e 5,74% mais a variação do IPCA, não importando o que ocorrer de oscilação dos juros durante a vida dos títulos. 

Muitos investidores não entendem esse processo (que também ocorre nos fundos de previdência e fundos de renda fixa) e ficam assustados com a rentabilidade negativa provocada por esses efeitos. Não teria sentido você vender os títulos e comprar novos. Num exemplo simples, seria como se você tivesse comprado um papel de valor 100, de vencimento com valor de 110, que por processo de marcação a mercado está com um preço de 98. Se você ficar com o título terá rendimento de 10. Se você vender a 98 perderá 2. Se comprar outro título por 98 para um valor de vencimento de 110, ganhará 12. Ou seja, você ia ganhar 10 se não fizesse nada, e trocando os títulos perderá 2 na venda e ganhará 12 na compra, dá na mesma (afora efeito de imposto de renda). Você não deve fazer nada. 

Tenho uma opinião de que as taxas estão muito elevadas. Continue comprando regularmente, pois assim você diluirá os efeitos dos juros ao longo do tempo. Em minha visão estamos num excelente momento de aquisição desses papéis. Rendimento real de 7% ao ano, por exemplo dos títulos de vencimento em 2050, são um retorno muito atraente de renda fixa para o baixíssimo risco dos títulos do Tesouro Nacional.

Fernando Meibak, CFP é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros 

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 03 de fevereiro de 2014.

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