Consultório Financeiro

Como avaliar o patrimônio ideal

Tenho 34 anos e minha esposa 33. Possuímos um apartamento e um carro parcialmente quitados, pequena reserva em caderneta de poupança e outra em previdência privada. Estes bens somados estão avaliados em cerca de R$ 430 mil. 

Temos dúvidas se estamos constituindo nosso patrimônio da maneira correta e se ele condiz com o que deveríamos ter para o nosso momento de vida atual. 

Li numa publicação que existe a seguinte fórmula para essa análise: Patrimônio Líquido Esperado = (Idade X Renda Bruta Anual) /10.

Queria entender melhor.

André Castello Branco, CFP®:

Essa fórmula, muito prática e simples, foi criada por Thomas J. Stanley para se descobrir o valor de um patrimônio esperado. Em primeiro lugar, é importante que se pense em patrimônio líquido, ou seja, descontadas as dívidas e financiamentos. 

Este cálculo nos ajuda a identificar de forma simplificada qual deveria ser o patrimônio líquido ideal de uma pessoa ou de um casal em um dado momento de sua vida, se houvesse uma poupança de 10% da renda anual durante toda a vida, (por isso considera-se a idade). A partir daí, podemos compará-lo com o patrimônio liquido já alcançado para verificarmos se o mesmo está além ou aquém do esperado. Destaco abaixo algumas ressalvas para tornarmos o cálculo mais fiel e próximo do que de fato representa o patrimônio já conquistado: 

Herança – É prudente que seja excluída do patrimônio líquido, pois, na maioria das vezes, não foi constituída por esforços próprios. 

Supervalorização – Eu recomendo ajustá-la nos cálculos do patrimônio líquido já alcançado para uma valorização média de longo prazo. Uma vez que o cálculo sugere que este patrimônio tenha sido constituído através de esforços próprios de acumulação de renda e não de supervalorização.

Com relação à distribuição do patrimônio, recomendo que verifiquem se ela está concentrada ou não em poucos ativos. Imagino que o imóvel que adquiriram represente a maior parte do valor do patrimônio que possuem. Esse tipo de concentração é muito comum neste momento da vida que se encontram, de constituição de uma família. É importante, entretanto, que busquem uma diversificação, através da diminuição dessa exposição em um único mercado conforme o patrimônio de vocês cresça nos próximos anos. 

Outro aspecto importante para ser avaliado é o da liquidez do patrimônio. Ela é necessária para oferecer ao seu proprietário segurança contra imprevistos. Sugiro que pensem em manter no mínimo seis meses de despesas mensais em aplicações de baixo risco e com possibilidade de resgate imediato para essa finalidade. 

Críticos da fórmula do P.L.E costumam dizer que ela traz valores muito altos de patrimônio líquido esperado para pessoas que estão em fase inicial de geração de renda, entre 25 e 35 anos, pois a fórmula considera a idade para cálculo do período de poupança. Esta distorção ocorre, pois a fórmula foi desenvolvida com base em famílias americanas que se tornariam tipicamente milionárias quando seus formadores estivessem com idade próxima aos 50 anos. Sendo esta a situação de vocês, recomendo que utilizem o resultado da equação apenas como uma meta a ser alcançada. 

Sugiro também que não contem daqui para frente com o mesmo nível de retorno que provavelmente obtiveram no mercado imobiliário nos últimos anos. Em vez disso, procurem diversificar mais o patrimônio para diminuírem os riscos de concentração, acrescentar a ele uma parcela maior de investimentos com liquidez e manter a disciplina para continuarem destinando um percentual de suas rendas para a construção do mesmo. No mais, parabéns pela dedicação e mãos à obra!

André Castello Branco, CFP é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 27 de janeiro de 2014.

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