Consultório Financeiro

Como calcular o patrimônio ideal para ter tranquilidade?

Tenho um patrimônio avaliado em torno de R$ 800 mil. Qual seria o valor ideal para o equilíbrio financeiro e, consequentemente, para ter tranquilidade? Faço aplicações mensais em um clube de investimento, plano de aposentadoria privada e poupança.

Leticia Camargo, CFP®:

O equilíbrio financeiro se dá quando as receitas são maiores ou iguais às despesas e isso independe do patrimônio. Como você nos informou que faz aplicações mensais, acreditamos que já o tenha alcançado. Somente devemos efetuar aplicações quando houver uma sobra de recursos no fim do mês. Nunca invista se estiver devedor, pois os juros que pagamos ao banco pelos empréstimos são muito mais altos do que aqueles que recebemos pelas nossas aplicações.

Além disso, para garantir o mínimo de tranquilidade, é importante possuir uma reserva financeira para casos de emergência, cujo montante seja de pelo menos seis vezes seus gastos mensais. Esta reserva deve estar investida em produtos conservadores, como é o caso da poupança, onde o leitor já possui aplicações.

Indo um pouco além, podemos dizer que tranquilidade mesmo é ter uma aposentadoria digna e sem problemas financeiros. Se você gastar um valor igual aos juros reais de suas aplicações, ou seja, o que rende acima da inflação, conseguirá perpetuar seu patrimônio mantendo o poder de compra ao longo dos anos. Desta forma, não precisará mais se preocupar com a falta de dinheiro.

Aplicando em uma carteira de investimentos diversificada é bem razoável considerar uma rentabilidade real anual entre 4% e 6%. Dado o seu patrimônio atual, com 6% de juros reais ao ano, é possível efetuar retiradas anuais de R$ 48 mil. A conta é a seguinte: 800 mil vezes 6% (para calcular o valor dos juros reais anuais). Com juros de 5% ao anos, as retiradas anuais passam a R$ 40 mil e com 4% ao ano, R$ 32 mil, sendo que todas as retiradas assim como o montante final serão corrigidos eternamente pela inflação.

Porém, se o leitor gastar valores maiores do que os calculados acima para cada nível de taxas de juros ou se a rentabilidade for menor para cada valor de retirada, seu dinheiro não durará para sempre. Por exemplo, se gastar R$ 60 mil por ano, com juros reais de 3% ao ano, seu dinheiro acabará em aproximadamente 18 anos.

Como não temos certeza de quantos anos viveremos, podemos encontrar o patrimônio necessário para se aposentar estipulando uma retirada anual e uma taxa de juros. E ainda garantir a perpetuidade.

No exemplo de retiradas de R$ 60 mil com 6% ao ano, o montante deverá ser de R$ 1 milhão, ou seja, 60 mil divididos por 6% para encontrar o valor total. Assim fica fácil calcular o quanto deverá possuir para se aposentar com tranquilidade sabendo que este patrimônio poderá ser usufruído pelo resto de sua vida e ainda por seus herdeiros!

Por último, percebi que você já procura compor uma carteira diversificada aplicando mensalmente em vários produtos, porém não informou em que plano de previdência investe. Estes planos podem atuar em vários mercados: renda fixa, DI e até ações.

Para este tipo de reserva financeira, uma boa opção são os planos atrelados ao IPCA (inflação), que preservam o seu poder de compra e ainda rendem juros reais, ótima opção para o longo prazo. Informe-se em que ativos o seu plano investe e, se necessário, solicite a portabilidade para outro plano na mesma seguradora ou até para outra seguradora sem nenhum custo adicional. Desta forma você diversifica ainda mais seus investimentos e minimiza seus riscos.

Leticia Camargo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 13 de fevereiro de 2012.

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