Seu Planejamento Financeiro

Como calcular quanto preciso ter na minha reserva de emergência?

 Paula Sauer, CFP®, Responde:

Segundo a pesquisa Raio X do Investidor, da Anbima, em 2019, 44% dos brasileiros tinham algum saldo aplicado. Ainda assim, observaram-se em 2020 muitas famílias em delicada situação financeira em função da redução de recursos e do desemprego, agravados pela pandemia.

Duesenberry (1967 [1949]) observou, em sua Hipótese de Renda Relativa, que temos dificuldade em reduzir o padrão de vida mesmo em situações de desemprego e queda na renda, e que comparamos o nosso consumo com o das pessoas a que nos associamos; assim, diz o autor, em um cenário de queda na renda tendemos a usar toda a reserva financeira disponível para manter o padrão de compras. Para Minsky (2008 [1986]), as pessoas lidam com os recursos finitos de uma maneira ainda mais complexa, endividando-se para manter os seus costumes.

Somados, esses comportamentos evidenciam a necessidade premente de se montar ou reconstruir uma reserva financeira para emergências.

Antes da pandemia, a recomendação mais usual era a constituição de uma reserva financeira em investimentos com liquidez imediata, ou seja, em ativos que, caso o indivíduo precisasse, pudessem ser acessados imediatamente. Fundos DI e Tesouro Selic são exemplos. A recomendação era de que essa renda cobrisse as despesas por um período de 6 a 12 meses; o que determinaria com exatidão esse prazo seriam fatores pessoais relacionados ao ciclo de vida, à profissão, à empregabilidade, ao tempo médio de recolocação no mercado de trabalho e à flexibilidade salarial. Nos dias de hoje, é preciso considerar a instabilidade e as incertezas que vivemos, aprofundadas pela pandemia de Covid-19.

Estamos vivendo a crise e não é possível precisar como e quando será o momento de inflexão; dessa forma, se você está empregado ou possui outra fonte de renda, busque a segurança de um plano de saúde, tenha um seguro de vida e acidentes pessoais e, o mais importante: guarde o máximo possível de recursos, seja para reconstruir sua reserva de emergência, seja para se blindar de uma situação financeiramente ruim no caso de desemprego, perda da renda e até mesmo doença.

Caso o leitor possua recursos em uma reserva de emergência, estude aumentar o prazo que ela proporciona de segurança, ou seja, mantenha as despesas pagas em dia.

Não existe uma única recomendação de valores ou prazos que atenda a todas as especificidades de situações. Para alguns profissionais, a pandemia modificou o jeito de trabalhar, mas não interferiu nos rendimentos; para outros, provocou uma queda na renda; há um terceiro grupo que a pandemia descartou do mercado de trabalho, para quem a recolocação pode não vir ou só acontecer em um prazo que não se pode estimar, e ficou em uma situação vulnerável.

Ponderando todas essas questões, é cristalino que o momento é de se proteger. Se você possui reserva de emergência, a aumente; se vai reconstruí-la, lembre-se da sensação de ter as contas pagas em dia. Para você que precisa começá-la, guarde de 20 a 30% a mais do que faria em tempos normais, no mínimo; ou seja, se você costumava guardar R$ 1.000,00 por mês, é o momento de afinar ainda mais as escolhas e guardar, se possível, de R$ 1.200,00 a R$ 1.300,00 mensalmente.

Referências:

ANBIMA. Raio X do Investidor Brasileiro, 3. ed. Disponível em: https://www.anbima.com.br/pt_br/especial/raio-x-do-investidor-2020.htm. Acesso em: 30 abr. 2021.

DUESENBERRY, James. Income, savings and the theory of consumer behaviour. Oxford: Oxford University Press, 1967 [1949].

MINSKY, Hyman P. Stabilizing an unstable economy. New York; Chicago; San Francisco: McGraw Hill, 2008 [1986].

Paula Sauer é planejadora financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no site Época Negócios em 11 de maio de 2021.

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