Consultório Financeiro

Como controlar as compras e sair do rotativo do cartão?

“Vejo que me descontrolo facilmente nas compras e logo acabo optando pelo pagamento do valor mínimo dos meus cartões. Minha preocupação é constante com as minhas finanças. Gostaria de sair dessa situação, mas vejo que não é fácil. O que me aconselham?”

Nélio Costa, CFP ®, responde:

Olá! Que bom que você está buscando resolver a situação – pode parecer simples, mas realmente esse passo é o mais importante. Vamos lá: existem dois pontos a serem resolvidos, que estão separados a seguir:

Primeiro ponto: estancar o sangramento atual

Hoje, quando paga o valor mínimo, você entra no chamado “crédito rotativo do cartão”, ou seja, você simplesmente “roda” o valor que falta para o próximo mês. E o rotativo do cartão é o crédito mais caro que existe ! Quando usa o cartão, na prática o que acontece é que você pega dinheiro emprestado para fazer uma compra e se compromete a pagar no dia da fatura. Se pagar direitinho, ótimo – o empréstimo saiu de graça. Porém, se não pagar, serão cobrados juros muito altos!

Se você deixar de pagar R$ 1.000,00, após um ano deverá mais de R$ 4.000,00. Por esse motivo é tão importante que você busque zerar totalmente o valor em aberto com o cartão. Imagine que os R$ 1.000,00 do cartão que ficaram em aberto foram usados para pagar um telefone – pense que esse telefone custou R$ 3.000,00 a mais do que o preço que você viu na loja. 

Para evitar pagar esses altos valores a mais em algo comprado no cartão que fica com a fatura em aberto, dedique uma hora do seu tempo para anotar todas as despesas mensais que você tem: gastos com moradia, alimentação, transporte e outros. Veja então quanto da sua renda sobra para poder dedicar à quitação da dívida do cartão. Veja o que pode ser reduzido ou até mesmo eliminado para conseguir fazer a conta fechar. Tendo esses números definidos, dedique-se ao máximo para se manter dentro do orçamento: se você viu que deveria ter um limite de R$ 600,00 com alimentação no mês, acompanhe para que suas despesas fiquem dentro desse valor.

Além disso, verifique se consegue outro crédito para substituir o rotativo do cartão: existem algumas linhas de crédito muito mais vantajosas, como um consignado, o crédito com garantia ou até mesmo um empréstimo pessoal. Enquanto o custo do crédito rotativo do cartão é de aproximadamente 13% ao mês, outras modalidades podem baixar para uma faixa de 2% a 8% ao mês. Continua sendo um valor muito alto! A 2% ao mês, mil reais custariam R$ 1.260,00 e a 8% ao mês a dívida se transformaria em aproximadamente R$ 2.500,00 após um ano. Ainda assim, seria menos do que os R$ 4.000,00. Um vez que esse sangramento esteja estancado, vá para o próximo passo.

Segundo ponto: evitar que isso se repita

Essa é a parte em que sua determinação para sair da situação vai realmente ser fundamental. Uma orientação que pode ajudar bastante e que, inclusive, você já deve ter pensado é tentar evitar ao máximo ter acesso ao cartão de crédito. Quebre, jogue fora, deixe com alguém de sua confiança para que você não tenha acesso ou cancele. Não importa como, mas é muito importante que seja impossível ou muito difícil você utilizar um cartão.

Se for fácil, você precisará confiar 100% em sua força de vontade – não que isso seja impossível, mas existem momentos delicados na vida e às vezes é preciso concentrar toda a energia em um problema específico. Nesse momento de vulnerabilidade, se não houver uma barreira para utilizar o crédito, pode ser que você baixe a guarda e, quando menos perceber, se comprometa com uma dívida que não tem como pagar. 

Outra estratégia boa é multiplicar por quatro o preço do que você está pensando em comprar no crédito e pensar se vale a pena. Quer comprar um perfume de R$ 100,00? Acha que o preço está bom porque normalmente é R$ 140,00? Considere então que, como você não tem o dinheiro disponível para isso, o perfume provavelmente vai acabar custando R$ 400,00 ou até mais para você! Será que por esse valor continua sendo uma ótima promoção?

Por fim, dedique-se também a guardar todo mês uma parte do que você ganha. Ter uma reserva disponível para utilizar em um momento difícil pode transformar sua vida. Se por acaso você precisar pegar um valor emprestado para resolver um problema, pode precisar de anos e anos de trabalho apenas para pagar as dívidas que acabou tendo que contrair. E é fundamental que seu trabalho possa ser dedicado para você realizar os seus objetivos futuros e não para arrumar um dano causado por um deslize do seu passado.

Nélio Costa é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 08 de fevereiro de 2021.

 

0