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Como defender o seu dinheiro da inflação

Marcia Dessen, CFP®:

Em 2020, a inflação subiu muito e os consumidores perderam poder de compra. Em 2021, a inflação segue atrapalhando a vida de todos, especialmente a das pessoas de baixa renda, e agrava ainda mais a desigualdade social.

O IPCA subiu 8,06% em 12 meses, até maio de 2021. No mesmo período, o IGP-M acumulou alta de 37,04% e, como responde parcialmente pelos reajustes dos serviços de telefonia e de energia elétrica, contratos de planos de saúde e educação, além de ser utilizado para reajustar contratos de aluguel, é fácil imaginar o estrago no orçamento e no bolso das famílias.

Mesmo quem controla as despesas na ponta do lápis não foi capaz de comprar as mesmas coisas que comprava antes, e me refiro aos felizardos que mantiveram o trabalho e a renda. O que fazer para se defender contra a poderosa e avassaladora inflação?

Precisamos separar em dois grupos antes de apresentar recomendações: os privilegiados, com dinheiro para investir, e os mais afetados, as pessoas de menor renda, sem reservas financeiras para enfrentar tempos de crise.

Começando pelo grupo maior e mais atingido, as recomendações se referem basicamente ao consumo. O conselho é óbvio e nem sempre possível de ser implementado: reduzir e cortar despesas.

Adiar toda e qualquer despesa que não seja essencial, substituir produtos, reduzir a quantidade para evitar desperdícios, explorar novos pontos de venda, alimentação caseira, mais saudável e econômica do que a servida em padarias e restaurantes.

Cancelar, reduzir pacotes de serviços e renegociar contratos, especialmente os que são corrigidos pelo IGP-M, que arrasou o bolso até dos mais ricos. O contrato de aluguel, por exemplo, merece atenção especial e uma boa conversa com o proprietário do imóvel, que há de preferir uma redução no valor cobrado a arriscar a inadimplência do inquilino ou vacância.

Para os privilegiados investidores, a recomendação é procurar alternativas de ativos atrelados a índices de inflação. Não se trata de uma proteção perfeita, em razão da flutuação de preços a curto prazo, mas oferecem razoável proteção, com rendimentos acima do índice oficial de inflação a longo prazo.

Começando pelos títulos públicos, é possível comprar as Notas do Tesouro Nacional série B (Tesouro IPCA+), que remuneram a variação do IPCA mais uma taxa de juros prefixada que incide sobre o valor corrigido.

Livres do risco de crédito, garantem o pagamento do juro real contratado quando mantidos até o vencimento. A revenda antecipada expõe o investidor ao risco de mercado, lembrando que, quanto mais longo o título, maior é a flutuação de preços.

Títulos privados, emitidos por instituições financeiras e não financeiras, como CDB, CRI, CRA e debêntures, também estão disponíveis. Quando o título é isento do Imposto de Renda, como CRI, CRA e as debêntures incentivadas, o investidor consegue reunir dois atributos em uma mesma aplicação: proteção contra a inflação e isenção fiscal.

Para reduzir o risco de crédito, o investidor deve avaliar a classificação de risco do emissor dando preferência aos de melhor rating, nota atribuída pelas agências classificadoras de risco. O risco de liquidez pode ser gerenciado com a aquisição de títulos de vários prazos.

A oferta de fundos de investimento atrelados a índices de inflação é ampla. Os planos de previdência, com natural vocação de longo prazo, combinam muito bem com a estratégia dos investidores que buscam preservar o capital e protegê-lo contra a inflação.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 28/06/2021.

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