Consultório Financeiro

Como devo me organizar financeiramente para sair de casa?

Como me organizar financeiramente para sair de casa? Hoje já tenho uma reserva de emergência suficiente para cobrir 7 meses do meu estilo de vida quando estiver morando sozinho (fora da casa dos meus pais), e agora estou juntando dinheiro para comprar os móveis e eletrodomésticos à vista. Ou é melhor comprar parcelado? Hoje estou empregado em uma empresa financeira com carteira assinada.

Jaques Cohen, CFP®, responde:

Caro leitor, para começar de forma objetiva, uma resposta rápida: do ponto de vista financeiro, você praticamente já está organizado. Pode melhorar um detalhe aqui e outro ali, mas organizado já está.

Fazer uma observação como essa não é menosprezar o que você traz; é aproveitar o cenário, tanto como exemplo de um planejamento bem-feito quanto como uma oportunidade para refletir para além dos números, já que é de trajetória de vida que trata um bom planejamento financeiro, no final das contas.

Sair da casa dos pais envolve, em maior ou menor grau, conflitos internos e questões entre pais e filhos. Não necessariamente é algo latente em seu caso, mas é bom observar os sentimentos, já que, muitas vezes, questões financeiras expressam o que se passa em outras áreas da vida.

Dito isso, é importante também pensar o espaço para o qual se mudaria. A casa dos pais, muitas vezes, é um lugar de aconchego. Ao sair dela, é interessante pensar em montar, aos poucos, um ambiente que acolha você à sua maneira.

Quando se trata de alguém consciente das limitações financeiras que a realidade impõe, é possível ir além de sugestões de poupar em detrimento de consumir, e entender que nem sempre isso é o melhor. Coisas também são importantes – elas estabelecem a relação do indivíduo com o ambiente no dia a dia e têm impacto na sua saúde mental. Para quem tem feito home office durante a pandemia, esse aspecto ganha relevância adicional. Objetos, iluminação, poluição sonora, vizinhança, transporte público, área verde ao redor: tudo isso vai ter impacto na sua qualidade de vida.

Respondendo de forma mais assertiva a sua pergunta, algumas dicas práticas podem ajudar: (1) Se o imóvel for alugado, priorize itens duráveis que possa levar consigo depois; (2) Sobre a forma de pagamento, com a taxa de juros nos níveis atuais, pequenos descontos à vista, de 3 ou 5%, já deixam essa alternativa mais vantajosa, sem falar em como a organização fica mais clara quando não se tem uma série de parcelas pela frente; (3) Esteja atento a toda despesa que seja recorrente, como pacotes de internet e TV;  (4) Pesquise bem os imóveis na região para a qual pretende ir – o aluguel pode variar bastante e será, provavelmente, sua maior despesa; (5) Em sua pesquisa, caminhe pelas ruas – muitas vezes fora da internet é possível encontrar boas oportunidades;  (6) Não tenha vergonha de fazer contrapropostas; (7) Não se esqueça também que, mesmo depois de se mudar, será necessário juntar dinheiro para outros objetivos e para a aposentadoria; (8) Não deixe de fazer um seguro residencial – arcar com um prejuízo no valor total do imóvel seria fatal para o estágio financeiro no qual você se encontra.

Para finalizar, mesmo que avalie não ser a hora, visitar imóveis para tangibilizar seu projeto pode ser um bom movimento. De um lado, ficar mais uns meses na casa dos pais pode permitir a você montar um espaço mais aconchegante; de outro é bom ficar atento para não adiar os planos indefinidamente, já que é comum viver uma insegurança quando se dá um passo em direção ao desconhecido.

Lembre-se que objetivos estão aí para serem concretizados – nem sempre de forma perfeita, mas aprendendo com a caminhada. Quem pode fazer essa avaliação de momento de forma mais honesta é você mesmo. No mais, um nível satisfatório de organização financeira, aparentemente, você já tem.

Jaques Cohen, CFP® é planejador financeiro pessoal e possui certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar). E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões dos autores, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 14 de junho de 2021.

0