Consultório Financeiro

Como direcionar recursos para investimentos sustentáveis?

Aplico meus recursos há muito tempo e possuo uma carteira bem diversificada entre renda fixa e variável. Como me preocupo cada vez mais com questões ambientais e sociais, gostaria de saber como fazer investimentos que levem essas questões em consideração?

Marcelo Lara Nogueira, CFP®, responde:

Sim, existem. E você não precisa ser um grande investidor para fazer investimentos sustentáveis.

O mercado de investimentos que geram resultados positivos para a sociedade vem crescendo pois, cada vez mais, investidores passam a questionar o uso final que é dado a seu dinheiro. Antigamente, investidores com essa preocupação deixavam de aplicar em empresas “irresponsáveis” ou que sua atividade provocasse danos ao meio ambiente. Hoje em dia existem muitas outras alternativas.

O primeiro passo é definir se o investimento pretendido é de renda fixa, emprestando dinheiro com data para recebê-lo de volta, ou de renda variável, na qual o investidor torna-se sócio da companhia.

A lei 12.431 de 2011, a qual isentou o Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos recebidos por pessoas físicas que investissem em fundos de debêntures de infraestrutura ou as comprassem diretamente, ajudou a acelerar a criação do mercado de capitais de renda fixa no Brasil. Essas debêntures podem ser emitidas por empresas que tenham projetos de infraestrutura. Muitos desses projetos têm impacto social e ambiental como energia renovável, saneamento e transporte hidroviário ou ferroviário.

Esses fundos e debêntures estão disponíveis para o público geral, incluindo o pequeno investidor, e podem ser encontrados nas corretoras de investimento e nos bancos. O objetivo do fundo deve ser de investir em projetos que gerem efeito socioambiental positivo para garantir que sejam selecionadas debêntures que financiam projetos sustentáveis.

O investidor deve atentar-se aos ativos que compõem a carteira do fundo escolhido para certificar-se que os projetos investidos tenham efeito positivo para a sociedade.

No caso do meio ambiente, o investidor pode comprar transações com selo de “títulos verdes” ou “green bonds”, como são conhecidos internacionalmente, cujos recursos são utilizados para trazer benefícios ao meio ambiente, como a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, entre outros.

Ainda sem emissões no mercado brasileiro, também existem os “social bonds”, que promovem resultados sociais positivos.

Do lado da renda variável, a bolsa criou em 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que mede a performance das empresas com base na eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa. O índice tem por objetivo auxiliar os investidores na tomada de decisão de investimentos responsáveis, que fazem a gestão de impactos negativos ASG (Ambientais Sociais e de Governança).

A carteira do ISE é atualmente composta por 30 empresas. Ademais, existe também o Índice Carbono Eficiente (ICO2), composto por empresas que adotam práticas transparentes com relação a emissões de gases do efeito estufa.
O investidor tem também a alternativa de aplicar por meio de plataformas on-line que ligam empresas menores a investidores tanto para dívida como para renda variável, private equity e crowd equity.

Vale lembrar que investimento com resultado positivo para a sociedade não significa baixo retorno e tampouco filantropia. Muitos defendem que investir em empresas responsáveis socialmente gera valor no longo prazo para seus credores e acionistas, pois estão melhor preparadas para enfrentar os riscos inerentes aos seus negócios, bem como possuem uma relação mais longeva com seus stakeholders, acessando o bolso de investidores que, além de se preocuparem em aplicar bem, buscam também investir fazendo o bem.

Devido à diversidade de opções e complexidade dos riscos envolvidos, é recomendável ao leitor buscar a ajuda de um planejador financeiro pessoal certificado e autorizado pela CVM a dar consultoria sobre valores mobiliários, que irá orientá-lo para que suas decisões de investimento estejam alinhadas a seus planos de vida e perfil pessoal.

Marcelo Lara Nogueira é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 06 de maio de 2019

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