Consultório Financeiro

Como fazer investimentos que respeitem o meio ambiente?

Quero fazer investimentos alinhados ao respeito ao meio ambiente e à prevenção do aquecimento global. Quais são, efetivamente, minhas alternativas para fazer isso no Brasil?

Luciano Boudjoukian França, CFP®, responde:

Há décadas, há quem diga que as finanças e a sustentabilidade corporativa iriam fazer as pazes em nome do amor ou pela dor. Neste segundo ano da pandemia, vê-se que a segunda hipótese prevaleceu. Investidores e gestores de ativos buscam, como nunca, alternativas para incluir aspectos sociais e ambientais em suas carteiras.

Nos eventos on-line, é rara uma palestra sobre alocação de recursos sem a menção do termo ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance). Contudo, isso não significa que os portfólios estejam comprometidos com os conceitos de Ambiental, Social e de Governança Corporativa (na tradução para o português).

No Brasil, ainda são minoria as gestoras que usam como benchmark para suas carteiras os chamados índices “sustentáveis” da Bolsa de Valores: Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), Índice de Governança Corporativa (IGC) e Índice Carbono Eficiente (ICO2).

Em fevereiro de 2020, a Anbima divulgou o “Guia Incorporação dos Aspectos Ambientais, Sociais e de Governança nas Análises de Investimentos”, mostrando que somente 11% das gestoras de recursos no Brasil contavam com uma área específica para avaliar ativos com esse perfil.

Entre todas as companhias listadas na B3, também são minoria as que mantêm em seu website uma seção específica atualizada para destacar seus projetos socioambientais.

Portanto, é recomendável a ajuda de uma assessoria de investimentos para encontrar produtos financeiros verdadeiramente alinhados ao respeito ao meio ambiente.

Nesse sentido, vale ressaltar ainda que as empresas ESG não são necessariamente as mais rentáveis, justamente pela dificuldade de precificar os ativos dessa natureza.

Isso porque fazer investimentos não tem uma resposta simples por envolver conceitos bastante complexos.

Além de gestoras que atuam nesse segmento e das empresas incluídas nos índices de sustentabilidade, existem alternativas como os fundos de índices (ETFs), que abrangem indicadores com esse propósito no Brasil.

Vale a pena conhecer fundos que seguem processos sistemáticos de investimentos – conhecidos como factor investing – cujos modelos usados na seleção de ativos adotam as características das empresas ao longo de décadas, por conta da possibilidade de serem estudados os fatores de ESG.

Não se trata de uma luta entre o bem e o mal. A questão é a ausência de um critério cartesiano, racional ou único para estabelecer o que de fato credencia uma companhia como ESG ou não. Seria mesmo possível comparar empresas de setores e formas de atuação tão diversos?

Até que essa fórmula fique pronta, há uma medida importante a tomar: pesquise bem o ativo. Procure se blindar de julgamentos pautados apenas pela propaganda que as empresas fazem delas mesmas. Cuidado com a subjetividade como a única bússola na escolha.

Outra dica é conversar com os funcionários – antigos e atuais – da companhia em que deseja aportar seus recursos. Compare o que fornecedores, parceiros e pequenos prestadores de serviço dizem sobre a marca. Procure a ajuda de investidores que compartilham dos mesmos interesses. Certifique-se de que está bem assessorado e faça bons investimentos para o bem do planeta.

Luciano Boudjoukian França é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 03 de janeiro de 2022.

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