Consultório Financeiro

Como funciona e quais os riscos de fundos alavancados?

“Estava analisando alguns prospectos e lâminas de fundos para diversificar meus investimentos. Notei que alguns têm alavancagem. Gostaria de entender como isso funciona e quais os impactos dessa alavancagem no fundo. É verdade que posso ser chamado a repor capital?”

Maximiliano Marques Rodrigues, CFP®, responde:

Ótimo que você esteja fazendo este trabalho de diversificar sua carteira, analisando as informações sobre os fundos de investimento antes de definir os mais adequados ao seu perfil.

Objetivamente, alavancagem é a capacidade que um investidor tem de tomar uma posição que lhe dará um resultado mais do que proporcional ao seu investimento.

Para facilitar a compreensão, segue um exemplo: se você acredita que o dólar dos Estados Unidos vai subir e superar R$ 4 nos próximos três meses, ao invés de comprar dólares à vista, você pode adquirir contratos de dólar no mercado futuro.

Cada contrato dá direito a compra de US$ 50 mil ao preço de exercício na data de vencimento, neste caso R$ 4 daqui a três meses. Para isso, basta comprar o contrato através de uma corretora e fazer um depósito em bolsa, chamado de margem, que corresponde a uma fração do valor total do contrato.

Neste exemplo, digamos que seja de 5%, equivalentes a R$ 8.750 — esta é a sua posição inicial. Se o dólar subir acima do preço de exercício, para R$ 4,50 na data de vencimento, seu lucro será de R$ 25 mil, pois você poderá comprar US$ 50 mil por R$ 4,00 e vendê-los ao preço de mercado; ao contrário, se o dólar cair e estiver cotado a R$ 3,50 sua perda será de R$ 25 mil, pois além de ter perdido sua posição inicial, você terá de aportar mais R$ 16,25 mil.

Para diminuir a inadimplência, caso o dólar esteja caindo, a bolsa exige da parte “perdedora” que deposite mais margem ao longo do prazo do contrato. Neste caso, se o investidor estiver aplicando via fundo, o gestor fará chamadas de capital aos cotistas, que serão obrigados a aportar mais recursos.

As chamadas de capital em fundos que utilizam de alavancagem não são raras, ocorrem frequentemente no mercado brasileiro e internacional.

Deste exemplo, podemos extrair certas conclusões: a alavancagem traz mais risco, pois aumenta o potencial de retorno ou de prejuízo; prever e acertar o desempenho das variáveis macroeconômicas é chave para gerir uma carteira de investimentos; experiência e conservadorismo na tomada de decisão minimizam perdas, já que nenhum de nós sabe o futuro, por melhor que seja nosso processo de análise.

No Brasil, um país com grandes oportunidades, mas de economia instável, movimentos drásticos nos mercados fazem posições alavancadas gerarem ganhos espetaculares, como também prejuízos severos.

Já assistimos a diversos bancos terem lucros exponenciais, resultado de atividades de tesouraria, especulando nos mercados de juros, câmbio e bolsa, utilizando-se basicamente de alavancagem. Também observamos diversas instituições financeiras no Brasil e no mundo quebrarem pelo mesmo motivo.

Ciente dos riscos, o investidor pode ou não buscar fundos de investimento que se utilizam de alavancagem, de acordo com seu perfil, estratégias e objetivos.

Em qualquer caso é muito importante conhecer bem o gestor, avaliar a composição da carteira, os riscos de crédito, de mercado, e de liquidez a que o fundo está exposto.

Vale lembrar que a maioria dos investidores são excessivamente agressivos na euforia e conservadores na crise. Este não é o caminho ideal. Devemos sempre analisar o cenário e investir nas oportunidades que trazem a melhor relação custo-benefício, adequado ao nosso perfil de risco, independentemente de modismos.

Recomendo desconfiar de rentabilidades muito altas, pois elas podem embutir riscos elevados, na maioria dos casos, além da capacidade do investidor de assumir perdas.

Maximiliano Marques Rodrigues é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 23 de julho de 2018

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