Consultório Financeiro

Como funcionam e quais os riscos dos multimercados?

“Com a queda da SELIC muita gente tem me indicado fundos multimercado. Como eles funcionam, quais os riscos deles”?

Marcelo Lara Nogueira, CFP, responde:

A meta SELIC caiu de 14,25% para os atuais 6,50% ao ano, consequentemente, investidores que tinham seus investimentos ligados ao CDI, viram sua renda financeira nominal despencar para menos da metade. Muitos se perguntam: “E agora? Onde investir?”. Diversos fundos multimercado captaram bilhões de reais em uma corrida dos investidores em busca de um melhor rendimento. Gestores altamente competentes (e outros nem tanto) captaram muitos recursos nos últimos meses.

Mas será que os multimercados são para qualquer investidor? Certamente não. O investidor deve primeiramente ter em mente a constituição de sua reserva de emergência para fazer frente a gastos inesperados e cobrir alguns meses de suas despesas. Estes recursos devem ser poupados em um instrumento com liquidez imediata, podendo ser um fundo ligado ao CDI, Tesouro SELIC ou um título de instituição financeira de primeira linha. Adicionalmente, outros pontos precisam ser analisados como a composição da carteira de investimento e objetivos pessoais.

Os fundos multimercados se encaixam para investidores que buscam retornos mais elevados para parte de seus investimentos. Como já dizia o famoso ditado: “Não existe almoço grátis”. Maior retorno vem atrelado a mais risco. Sendo assim, os investidores em fundos multimercados precisam saber que estão sujeitos a ter retornos negativos, podendo até mesmo perder parte do capital investido. Isto se deve ao fato dos multimercados poderem investir seus recursos em uma série de ativos financeiros como ações, títulos de crédito privado, ativos no exterior, derivativos e operar de forma alavancada, isto é, tomar posições superiores ao seu patrimônio.

Toda esta flexibilidade para assumir riscos faz com que os fundos multimercados tendam a ter volatilidade mais elevada que os fundos de renda fixa. Quanto maior a volatilidade, maior poderá ser sua perda. Para facilitar a vida do investidor sobre o que cada fundo pode fazer, a Anbima os classificou em três categorias: 1) Alocação: buscam retorno de longo prazo investindo em diversas classes de ativos podendo ser Balanceados (com alocação pré-determinada em mix de ativos sem alavancagem) ou Dinâmicos (com flexibilidade para alterar mix de ativos admitindo alavancagem); 2) Estratégia: conforme sua política pode ser Macro (baseado em cenários macroeconômicos), Trading (explorando ganhos de curto prazo), Long and Short (montando operações de renda variável compradas e vendidas), Juros e Moedas (investindo em renda fixa), Livre, Capital Protegido e Estratégia Específica; 3) Investimento no Exterior.

Devido à maior complexidade na gestão dos multimercados, estes costumam ter as taxas de administração mais elevadas. Soma-se a ela também uma taxa de performance, que corresponde a um percentual sobre o rendimento que exceder o benchmark do fundo, cobrada em geral sobre o que exceder 100% do CDI.

O investidor deve sempre ler o prospecto e o regulamento do fundo para entender sua política de investimentos e riscos assumidos. Como nem sempre os ativos possuem liquidez imediata, os gestores costumam impor um prazo de liquidez para os resgates que devem ser observados. Para diversificar o risco, o investidor pode aplicar em mais de um fundo multimercado, no entanto, deve-se analisar a estratégia de cada fundo, de forma a identificar posições complementares, que não se anulam e tampouco sejam similares.

Devido à grande diversidade de opções e complexidade dos riscos envolvidos, é recomendável ao leitor buscar a ajuda de um planejador financeiro pessoal certificado, que irá orientá-lo para que suas decisões de investimento estejam alinhadas a seus planos de vida e perfil pessoal.

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 04 de junho de 2018.

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