Consultório Financeiro

Como investir no exterior e quais cuidados tomar?

Estou pensando em investir no exterior. Como fazer e quais cuidados devo ter?

Ana Lucia, CFP®, responde:

Existem quatro formas básicas de investir no exterior. A forma clássica é através de uma corretora ou um banco de investimentos. Muitos bancos nacionais possuem escritórios no exterior para abertura de conta e investimentos. Abrir uma conta em um banco com o qual já se tenha relacionamento facilita bastante a movimentação e a gestão do portfólio.

Em caso de abertura de conta em um banco desconhecido, busque antes informações sobre a solidez da instituição financeira e onde ela atua.

Após a abertura da conta, é necessário o envio de recursos por transferência bancária, mas é importante que a remessa seja identificada corretamente, conforme enquadramento no Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais (RMCCI). O correto enquadramento evitará possíveis problemas quando do regresso do dinheiro ao Brasil e facilitará sua comprovação perante a Receita Federal.

Outra forma de investir no exterior é através de Fundos de Investimento que apliquem em ativos no exterior, como fundos de renda variável, que aplicam pelo menos 40% da carteira em ativos de renda variável do mercado internacional, fundos de renda fixa, que investem em títulos internacionais de renda fixa, como por exemplo títulos do Tesouro dos Estados Unidos, e Fundos Cambiais, que aplicam a maior parte do capital em produtos atrelados a moedas estrangeiras. Há ainda os ETFs (Exchange-Traded Funds), tipo de fundo de investimento que se baseia em índices de Bolsa de Valores, e os BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na B3.

Tributação para investimentos no exterior

Todos os investidores com mais de 1 milhão de dólares fora do país devem fazer uma declaração anual específica chamada Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE). Ela é obrigatória para pessoas físicas e jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no Brasil que detenham ativos no exterior.

Os ganhos obtidos em investimentos no decorrer do ano anterior devem ser informados. E a liquidação ou o resgate de investimentos no exterior também é tributada sobre o lucro. Nas regras atuais, a apuração do lucro deve ser calculada em relação à variação cambial em reais das aplicações e o investidor deve recolher o imposto até o último dia útil do mês subsequente à obtenção do ganho de capital no exterior.

Os investimentos que pagam juros periódicos, conhecidos como cupons, também possuem incidência de IR. Os fundos offshore que pagam dividendos têm tributação de acordo com a tabela regressiva de IR.

Se o investidor tiver pagado impostos em países com que o Brasil possui tratado de reciprocidade ou que prevejam compensação, poderá haver redução do imposto a pagar. A apuração e o pagamento do imposto são de responsabilidade do investidor.

Quanto aos riscos de investir fora do Brasil, a variação cambial é algo importante a ser considerado, já que afeta diretamente a rentabilidade da aplicação. Outro item fundamental a avaliar são as empresas e ativos escolhidos para investimento. Assim como os investimentos no Brasil, os investimentos no exterior correm riscos de mercado, de crédito, de liquidez e políticos.

Investir no exterior pode valer a pena, mas antes encontre a opção mais adequada ao seu perfil de investidor e seus objetivos, assim você poderá entender bem os prós e contras, e escolher a melhor modalidade de investimento.

Ana Lucia Rocha Soares é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 14 de fevereiro de 2022.

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