Consultório Financeiro

Como investir para garantir renda na aposentadoria?

Estou para me aposentar e gostaria de saber se é possível investir em alguma aplicação financeira para garantir renda na faixa de três salários mínimos. O que devo fazer?

Flavio Pretti, CFP®, responde:

Caro Leitor, agradeço sua pergunta.

Os números do Banco Mundial mostram uma progressiva elevação na expetativa de vida. O Brasil, apesar de todos os problemas enfrentados, no quesito expectativa de vida deixou o grupo dos países do chamado Terceiro Mundo, com quem dividia posições nos idos dos anos 60, para habitar o grupo dos países desenvolvidos.

Hoje a expectativa de vida ao nascer no Brasil é de 75 anos, bastante próximo dos americanos, com 79 anos.

Como os avanços da ciência,  essas taxas tendem a continuar se elevando pelos próximos anos. Desta forma, a possibilidade de viver mais traduz-se em um ponto de alerta; mais tempo de vida, demanda mais recursos. Despesas com saúde, alimentação especial devido a restrições da idade etc. tendem a encarecer o custo de vida nesse período.

Bem, para responder sua pergunta, como não possuímos mais informações além do objetivo de receber três salários mínimos, vamos estabelecer algumas premissas. Vamos considerar que você tenha 65 anos, não pretenda deixar recursos como herança, consiga viver até 100 anos, e que as atuais expectativas de juros e inflação se mantenham.

Nestas condições, seriam necessários aproximadamente R$ 690 mil investidos em aplicações conservadoras para uma retirada mensal de três salários mínimos,  que mantenha seu poder de compra ao longo do tempo.

Esse valor nos faz refletir sobre a importância da renda do INSS na condição de aposentado. Como podemos verificar, os recursos necessários para gerar uma renda de três salários mínimos são substanciais, lembrando que o INSS pode chegar ao teto máximo de R$ 5.531,31.

Outro ponto relevante é que, ainda que tenhamos uma das maiores taxas de juros reais (juros pago menos a inflação) do planeta, claramente há um processo de decréscimo e isso, possivelmente, afetará a expectativa de rendimento das aplicações financeiras nos próximos anos.

Esse processo nos traz uma preocupação adicional e, portanto, torna-se fundamental avaliar as diversas opções que o mercado financeiro nos oferta, bem como avaliar se é ou não o melhor momento para parar de trabalhar, levando todos os fatores —rendimento real, expectativa de juros, aposentadoria do INSS etc.— em consideração.

Ainda é preciso entender que, mesmo que tomemos a decisão de nos aposentar e que disponhamos dos recursos, necessitamos acompanhar essa trajetória dos juros e da inflação, além de efetuar ajustes caso necessário, inclusive no valor de nossas retiradas.

A gestão do valor dos saques mensais para que fiquem próximos ao rendimento real líquido do investimento (juros descontados o Imposto de Renda e correção da inflação), é um fator de segurança para a manutenção da aposentadoria tranquila.

Considerando que você necessitará fazer retiradas dessa aplicação durante o mês para custear suas despesas, as alternativas de investimento envolvem a premissa de liquidez imediata e baixo risco de crédito e de mercado.

Com essas premissas, temos os fundos de investimento do tipo renda fixa simples, os indexados ao DI, os CDBs DI, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e os títulos Tesouro Selic, entre outros. Em todas as opções devemos estar atentos a rentabilidade líquida dos custos do investimento (descontar as taxas de administração, custódia etc.).

Dados os riscos de redução dos juros reais no Brasil, uma análise mais detalhada de seu fluxo de caixa pode permitir uma alocação em investimentos mais ajustados a suas necessidades, possibilitando diversificar investimentos com retornos superiores aos que se obterão nas alternativas de anteriores.

Outra opção são os seguros por sobrevivência. Com eles é possível adquirir uma renda vitalícia a partir de um capital aportado e desta forma compartilhar o risco de uma vida mais longeva com outros participantes do plano.

Em todas as alternativas, vale consultar um planejador financeiro certificado para auxiliá-lo nas alternativas, bem como na avaliação do melhor momento para parar de trabalhar ou ainda se existem motivos para postergar essa decisão.

Flavio Pretti é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 11 de setembro de 2017

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