Seu Planejamento Financeiro

Como organizar as finanças em casal?

Leandro Leite, CFP®, responde:

Um dos maiores motivos de conflitos entre casais é o dinheiro, ou melhor, a falta de engajamento, planejamento e diálogo acerca do assunto. A conversa ou discussão costuma acontecer somente quando a situação já está crítica e, diante disso, o foco acaba sendo o problema. Não existe uma preparação para evitá-lo e, nesse cenário, o assunto “dinheiro” é associado a eventos ruins e dificuldades. De fato, controlar gastos e traçar estratégias financeiras pode não ser uma atividade prazerosa para o casal, mas é fundamental para uma vida próspera.

O casamento traz consigo muitas responsabilidades que serão fracionadas entre os cônjuges. Na vida de solteiro, as consequências de decisões financeiras imprecisas recaem apenas sobre o indivíduo. Na vida a dois, essas consequências ganham mais profundidade e, quando os filhos chegam, os impactos podem ganhar ainda mais alcance. Administrar a renda familiar de forma saudável é possível somente quando existe um plano em que os anseios e projetos são discutidos e partilhados.

Tendo isso em vista, o casal precisa se planejar. Deve dedicar um tempo para conversar sobre dinheiro. De preferência (quando possível), com a contratação de um planejador financeiro. É necessário comprometimento. Os dois devem compartilhar sonhos e projetos e, para conquistá-los, os esforços devem ser somados. Caso contrário, o planejamento não funciona!

As etapas fundamentais para um bom planejamento financeiro em casal são as seguintes: 1 – Controle de gastos; 2 – Estabelecimento de metas; 3 – Plano de investimentos; 4 – Plano de ação e acompanhamento frequente.

Tudo começa com o controle de gastos. É preciso anotar tudo que se gasta, tudo mesmo. Quanto mais detalhado for esse processo, melhor. Busque informações em faturas dos cartões, extratos de contas bancárias etc. Se necessário, passe ao menos um mês anotando diariamente todos os gastos em uma agenda de papel e depois transfira essas informações para uma planilha. Muitos, nesse processo, se surpreendem com os valores auferidos.

Após conhecer o perfil de gastos e todos os números de forma detalhada, o casal precisa dialogar sobre seus planos, projetos, sonhos individuais e conjuntos. Essa etapa pode ser dividida em três caixas: projetos de curto, médio e longo prazo. Por exemplo: no curto prazo, o plano pode ser a formação de uma reserva de emergência, uma viagem ou um curso. No médio prazo, a chegada de um bebê ou a compra ou troca de um imóvel ou veículo. No longo prazo, a conquista da independência financeira ou aposentadoria. É fundamental nessa etapa que o casal olhe para a mesma direção, sonhe junto e execute junto.

Para que os sonhos possam ser conquistados, é preciso poupar. Criar reservas financeiras suficientes. Para tanto, o orçamento deve ser superavitário, ou seja, deve sobrar dinheiro. Talvez em um primeiro momento, após todos os gastos serem levantados, é comum perceber que não sobra nada. Nesse momento, é preciso conversar e verificar no que é possível economizar. Pode ser que sacrifícios tenham que ser realizados, porém a ideia central é gastar menos agora para gastar melhor e com mais qualidade no futuro. Uma frase atribuída a Warren Buffet resume muito bem a virtude da poupança: “Não poupe o que sobra depois de gastar; gaste o que sobra depois de poupar”. Desse modo, a formação de uma reserva de emergência deve ser a prioridade. Estabeleça uma meta de acumular 6 a 12 meses das despesas médias mensais do casal. Feito isso, é hora de pensar em investimentos de médio e longo prazo. 

Por fim, após controlar os gastos, estabelecer as metas e traçar os planos de investimento, é preciso pôr os planos em prática e monitorá-los. Crie um plano de ação para cada etapa com os detalhes da execução. Estabeleça um plano de acompanhamento mensal no mínimo. Os números mudam, a renda pode aumentar ou diminuir, problemas podem surgir, enfim… muitas variáveis podem forçá-los a mudar a direção. O importante é sempre ajustar as velas.

Estabelecer planos e metas alcançáveis é fundamental para que o desânimo não os faça desistir. O planejamento não é um fim, mas um meio para se conquistar sonhos. Cuidar das finanças e planejar juntos despesas, projetos e investimentos fortalece a relação e o único efeito colateral é a prosperidade. A estabilidade financeira será adquirida após alguns anos de disciplina.

Leandro Leite é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 21 de setembro de 2021.

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