Consultório Financeiro

Como planejar as finanças para mudar de carreira?

Preparação requer esforço adicional para economizar e consolidar uma reserva financeira capaz de apoiar transição profissional

Guilherme Moraes , CFP® responde:

Nos últimos anos, o mercado de trabalho passou por uma série de transformações que autorizou as pessoas a buscarem um melhor equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal. Se no passado estávamos acostumados a ver as pessoas trabalhando por décadas na mesma empresa, hoje em dia a carreira nas empresas ficou mais curta.

Com a pandemia, o trabalho remoto foi amplamente utilizado por todos, o que expandiu as possibilidades de trabalho geograficamente, permitindo às pessoas trabalhar em mais de um serviço ou em outros países.

As mudanças de rumo na carreira viraram algo mais comum, que acontece mais rapidamente, mas esses movimentos devem ser antecipadamente estudados e planejados, evitando assim arrependimentos que impactem não apenas a carreira, mas as finanças familiares.

Antes de definir pela transição, é fundamental ter clareza de seus motivos, sejam eles salário, benefícios, propósito, sociedade ou mudança de cidade. De qualquer forma, seja qual for a razão, o planejamento financeiro é fundamental.

Tão logo a pessoa decida enfrentar uma mudança profissional, é crítica uma preparação financeira. Um esforço adicional para economizar e consolidar uma reserva financeira que seja suficiente para fazer frente às despesas dos pelo menos doze meses seguintes é saudável. Essa reserva financeira deve ser investida em ativos seguros, como Tesouro Selic ou CDB de banco de primeira linha, com liquidez imediata e baixo risco.

Expor a reserva de emergência a risco de crédito ou de mercado é desnecessário, dado que o objetivo é proteger a reserva de riscos e evitar prejuízo, e não potencializar retorno.

É sugerido, também, que o profissional faça um levantamento completo de suas despesas e as categorize em moradia, transporte, saúde, educação, lazer, alimentação etc.

O resultado desse exercício dará clareza sobre padrões de consumo. Saber como o seu dinheiro é gasto é o primeiro passo para gastar de forma consciente. Há despesas que são inegociáveis e que dificilmente podem ser reduzidas no curto prazo, como educação, saúde e moradia. Porém, outras despesas podem ser flexibilizadas e reduzidas, como alimentação, lazer e transporte.

Conhecer e entender o seu endividamento contribui para suavizar a transição do processo. Diferenciar dívidas patrimoniais, como financiamento imobiliário, de dívidas comuns de cartão de crédito, e identificar os custos dessas dívidas podem ser atitudes muito úteis nesse movimento. A ciência desses itens pode culminar com mudança no perfil das dívidas, alongando o prazo de dívidas baratas e alterando dívidas curtas e mais caras, reduzindo a despesa financeira, abrindo espaço para mais renda disponível.

A transição de carreira não é um movimento isolado, mas um movimento sistêmico que envolve outras áreas da vida: profissional, financeira, familiar e social. Cada parte contribui para o sucesso desse movimento.

Embora o equilíbrio entre essas engrenagens seja fundamental, a preparação financeira para essa fase é crítica. A ausência de planejamento pode tornar a transição dolorosa ou até mesmo inviabilizá-la, causando arrependimento. Constituir uma reserva financeira robusta, segura e líquida, capaz de suportar meses de despesas, conhecer o seu padrão de consumo e entender suas dívidas tornará a transição de carreira muito mais suave, menos traumática e com maior possibilidade de sucesso. 


Guilherme Moraes é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro.  E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].


Texto publicado no jornal Valor Econômico em 08 de Maio de 2023.

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