Seu Planejamento Financeiro

Como planejar financeiramente para viver fora do país?

Cassio Segura, CFP®, responde:

Viver em outro país e conviver com culturas, modos de vida e hábitos diferentes é uma experiência enriquecedora, com aprendizados que carregamos para toda a vida. Para que essa experiência seja positiva, equilibrada e bem aproveitada, planejar financeiramente esse projeto é fundamental. O destino, a duração, o nível da moradia, o preenchimento do tempo (lazer, educação, trabalho etc.), entre outros aspectos, será resultado do equilíbrio entre a capacidade de acumular os recursos financeiros e o custo do projeto.

Também é fundamental analisar o tipo de situação imigratória (legal) e tributária que melhor se adequa ao seu projeto. Nesse campo, sugiro compartilhar seu projeto com advogados e contadores que possuem experiência em imigração e tributação. Eles podem indicar o melhor tipo de visto e a situação tributária que mais se encaixa e te protege de forma adequada.

Verificados esses aspectos, dedique-se à montagem de seu projeto. Comece escolhendo o destino pretendido. Analise suas preferências, interesses, hábitos culturais (é muito importante respeitar os hábitos e cultura do local escolhido). Se houver opções de escolha, um bom critério é comparar a qualidade e o custo de vida. Por exemplo, se seu destino for os Estados Unidos, o custo de vida em Nova York, Los Angeles ou Miami é maior que em Orlando, na Flórida, ou Savannah, na Geórgia. Se seu destino for Europa, em geral, países como Espanha e Portugal apresentam custo de vida menor do que França e Alemanha.

Inclua outros objetivos tais como estudar, viajar ou trabalhar (nesse caso, tem que ver se a legislação local permite) e assinale seu destino ou destinos. Sim, no início do projeto, se ficar em dúvida entre algumas opções, mantenha todas na mesa. Defina o tempo de estadia (por exemplo, 3 meses, 1 ano), o tipo de moradia (pousada, casa de família, albergue etc.), atividades que pretende fazer (viajar, estudar etc.) e faça os cálculos financeiros. Atualmente, temos bastante informação disponível nas mídias sociais, inclusive em sites especializados em viagens, estudos e trabalho no exterior.

Faça exercícios: 1) moradia em casa de família, passeios durante os fins de semana e aulas meio período durante a semana; 2) moradia em albergue, viagens e estudos semanais intercalados e assim por diante. Inclua o preço da passagem de ida e volta, os custos com alimentação, seguro viagem (fundamental), eventuais despesas que ainda terá que honrar no Brasil e uma reserva para contingências, que pode ser entre 10% e 30% do valor do projeto.

Encontrado o valor a ser investido, comece a trabalhar o plano para levantamento dos recursos necessários. Inicie fazendo um levantamento do nível e tipos de gastos atuais. Comece controlando aquelas despesas consideradas não essenciais à sobrevivência. Por exemplo, reduza almoços, jantares e festas fora de casa. Se for o caso, convide os amigos para sua casa e compartilhe as despesas. Tente evitar investimentos em ativos fixos e que possuem rápida depreciação (carro, moto, acessórios, computadores, celular etc.). Guarde esses recursos para seu projeto. Com a experiência e os conhecimentos adquiridos no exterior, na volta, você tem boas chances de conseguir melhorar sua renda e possivelmente poderá comprar o que deseja.

Lembre-se, tão ou até mais importante que ganhar bem, é saber gastar com sabedoria. O objetivo aqui é deixar de ter prestações e viver com um percentual de sua renda mensal (por exemplo, 70%). A diferença vai para o projeto. Controlando seu orçamento, você ainda poderá contar com eventuais receitas extraordinárias como o décimo terceiro ou a remuneração variável (participação nos lucros) para engordar suas reservas. Nesse ponto, você terá sua capacidade de poupar conhecida. Agora, analise quanto tempo você pode viver nesse modelo. Quanto tempo pode durar sua disciplina…

Sugiro que esse período de acumulação seja de pelo menos dois anos. Se conseguir em período inferior, ótimo. Mas, o alongamento para prazo muito longo colocará em teste sua perseverança, disciplina e resistência. Muitos desistem. Calcule quanto consegue acumular em um período preestabelecido e confortável para você e compare com o destino ou destinos escolhidos. Se o valor acumulado é suficiente para cobrir o investimento necessário para aquele destino, ótimo. Mas, se ainda não foi suficiente, analise vender alguns ativos fixos e que ficarão sem uso enquanto estiver no exterior (carro, computador, bicicleta…) para encorpar suas reservas.

Chegou lá? Siga em frente. Ainda não? Volte ao destino escolhido e revise os custos. Procure outros locais com preços mais acessíveis. Faça os ajustes necessários até encontrar um destino que equilibre suas preferências, tempo e orçamento financeiro.

Esse projeto de viver no exterior, além da disciplina financeira que você irá adquirir durante o período de acumulação das reservas, enriquecerá seus conhecimentos, habilidade e atitudes e fará de você uma pessoa e um profissional melhor. Na volta, estará mais preparado para aceitar e vencer desafios e conquistar vitórias tanto no âmbito pessoal quanto no trabalho. Aproveite ao máximo!

Cassio Segura é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site EpocaNegocios.globo.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 11 de julho de 2018.

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