Consultório Financeiro

Como proteger minha carteira da inflação?

Para ganhar no longo prazo, o ideal é construir uma carteira diversificada

Matheus Fachini CFP®, responde:

Estamos numa situação, não muito frequente, em que o investidor brasileiro se vê em vantagem para lidar com um problema que o mundo desenvolvido não sentia há ao menos 40 anos e voltou a sentir: uma inflação que deixou o caráter transitório para trás e ainda por cima veio a galope. Enquanto o mundo encara o problema como novidade, o brasileiro resgata um repertório rico de soluções para manter o poder de compra. A escolha passa por responder a duas perguntas: Superar a inflação em qual prazo? E qual a tolerância a risco?

Para ilustrar a importância do prazo, o CDI é um referencial. Historicamente, sua rentabilidade supera a inflação (IPCA) em todas as janelas móveis de cinco anos, mas não tem o mesmo efeito em muitas das janelas mais curtas, bastando observar os últimos quatro anos ou menos. Trata-se de uma solução com liquidez e baixo risco, mas que só resolve a questão no longo prazo.

Assim também se comportam outros ativos que são eficientes ao trazerem retorno acima do IPCA, mas sempre em horizontes mais longos: Bolsa brasileira, Bolsa norte-americana, inflação longa e fundos imobiliários. A diferença aqui é a alta volatilidade (risco de mercado) desses ativos – nos últimos 10 anos, 25%, 20%, 12% e 9% anuais, respectivamente.

A solução indicada para períodos curtos são os títulos de renda fixa referenciados ao IPCA. Aí entram bons benefícios para o investidor: títulos públicos e privados com vencimentos curtos e ligados à inflação. É possível encontrar hoje títulos públicos de até 2 anos pagando mais de 6% acima do IPCA, com boa liquidez. Uma desvantagem: oscilações de curto prazo, em função da marcação a mercado, não raro trazem resultados negativos no meio do caminho até o vencimento.

Se você conhece bem esse comportamento dos títulos e aguarda o resultado no vencimento, sem problemas. Mas, para boa parte dos investidores brasileiros, essa volatilidade pode se tornar um obstáculo. Nesse caso, a sugestão são títulos privados marcados na curva (dos quais o investidor vê a acumulação periódica linear da rentabilidade), preferencialmente isentos de IR e com proteção do Fundo Garantidor de Crédito. Papéis como LCAs, LCIs e LIGs trazem vantagens extras em relação ao Tesouro: prêmio de risco de crédito refletido em rentabilidade, pois encontram-se facilmente papéis pagando 0,5% acima dos títulos públicos; benefício progressivo de isenção de IR para a inflação; ausência da taxa de custódia de 0,20% anuais dos títulos públicos.

A solução poderia ser utilizada para o longo prazo? Sim, mas aqui há um dilema. Ao escolher a liquidez e segurança dos títulos públicos, cresce o risco da carteira, pois, quanto maior o prazo de vencimento, maior a volatilidade do título. E, se a escolha for feita pelo conforto dos títulos marcados na curva, haverá menos liquidez por longos períodos. Se por um lado isso é um compromisso com os objetivos de longo prazo, por outro não leva em conta que objetivos podem mudar no meio do caminho.

A indicação acaba recaindo, sem prejuízo, em um lugar-comum: a diversificação. Para ganhar da inflação no longo prazo, é ideal construir uma carteira diversificada com todos os ativos citados, de forma que a descorrelação reduza o risco da carteira. E, o mais importante, que esse risco seja compatível com o perfil do investidor. Mais importante que saber qual perda você é capaz de suportar é saber por quanto tempo o consegue fazer! Busque um profissional de confiança para auxiliá-lo nessa construção.

Matheus Fachini é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 26 de Setembro de 2022.

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