Consultório Financeiro

Como se preparar financeiramente para a aposentadoria

Tenho 60 anos e quero parar daqui a cinco, quando devo começar a receber INSS no valor de R$ 2,5 mil. O meu patrimônio é de R$ 1,5 milhão e tenho renda mensal de R$ 7 mil, que consumo por inteiro. Possuo o suficiente para me aposentar?

Jaques Cohen, CFP, responde:

Caro leitor,

Agradeço a sua pergunta. Ela toca em um receio frequente na fase de pré-aposentadoria, quando o horizonte de geração de renda é menor e os estigmas que a idade carrega batem à porta.

A passagem da maturidade para a velhice traz consigo alguns fantasmas e o dinheiro pode estar envolvido em muitos deles. Saber se o fantasma é real, ou não, pode aliviar a tensão e abrir espaço em nossa capacidade psíquica para enfrentar adversidades e desfrutar melhor esta fase.

Para te responder com mais precisão, teríamos de ter em mãos algumas informações.

A primeira, o quanto dos seus R$ 1,5 milhão está em patrimônio de uso, como imóvel de moradia, e o quanto está investido, em aplicações financeiras ou em imóveis alugados a outrem. Vou supor R$ 1 milhão em investimentos.

A respeito destes, na pré-aposentadoria, o horizonte de tempo para resgate é menor e o mais recomendado são papéis de renda fixa.

Visto isso, partimos para o seu contexto e objetivos: você divide legalmente esse patrimônio com cônjuge? Tem familiares que possam se tornar dependentes (como pais sem seguro de saúde ou filhos estabelecendo-se na carreira)? Pretende transmitir parte do dinheiro para as gerações futuras ou para outra pessoa?

Não irei abordar tudo isso aqui, mas estas questões exemplificam como particularidades podem enriquecer e aprofundar um trabalho com um profissional de planejamento financeiro.

Voltamos ao valor de R$ 1 milhão para mais suposições: eles estão mesmo investidos em renda fixa e o seu contexto e objetivos permitem usufruí-lo em sua totalidade ao longo da aposentadoria.

Com isso, podemos simular que, para expectativa de vida até os 100 anos, o seu capital geraria fluxos mensais entre R$ 4 mil e R$ 5,6 mil, descontados de impostos e inflação. O intervalo abrange cenários de maior e menor rentabilidade de acordo com os rumos da economia e da taxa de juros no Brasil. A partir daqui, vou usar como estimativa R$ 4,5 mil mensais.

Junto com os R$ 2,5 mil que recebe do INSS, o valor coincide exatamente com seu padrão de vida atual e já considera adequar a retirada pelos índices de inflação. Mas a pergunta que resta é: após os 65 anos, os meus gastos irão aumentar ou diminuir?

Até recentemente, muitos profissionais calculavam que as pessoas passam a ter despesas menores ao se aposentar. Uma pesquisa feita em 2014 pela consultoria Mercer mostra que para dois em cada três brasileiros elas se mantêm ou até crescem, mesmo que poucas vezes de forma desproporcional.

Atenção especial aos gastos com saúde, que incluem planos, medicamentos, tratamentos, exames, consultas e cuidadores. É bom manter um colchão de segurança para estabelecer uma sensação de conforto.

Para parar aos 65, você teria que fazer pequenos ajustes nas suas despesas atuais ou mexer no seu patrimônio de uso, que supusemos R$ 500 mil. A possibilidade de o INSS não acompanhar a inflação diante de reformas na previdência é mais um motivo para isso.

Uma alternativa que parece razoável é considerar manter alguma rotina de trabalho ao chegar aos 65 anos e buscar equilibrar vida pessoal e trabalho, sem deixar de manter-se ativo. Aproveite esta fase: ela pode trazer consigo serenidade, que, junto à experiência de vida adquirida, talvez permita viver como não se pôde até então.

Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui certificação CFP® (Certified Financial Planner),concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 04 de julho de 2016.

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