Consultório Financeiro

Devo arriscar para não perder oportunidade de investimento?

“Tenho recebido muitos e-mails de mala direta de assessores financeiros me oferecendo muitos produtos de investimento que têm alto retorno, que são ligados a outras moedas, a ouro e cryptomoedas. Já ouvi falar desses termos, mas não entendo nada, fico inseguro. Devo arriscar para não perder oportunidades?”

 Bruno Mori, CFP®, responde:

Prezado leitor, antes de buscar retornos mais altos é preciso entender os riscos associados aos produtos. Retornos potencialmente mais altos estão relacionados a maiores riscos.

Os serviços de assessoria financeira devem entender o perfil de cada cliente antes de oferecer produtos de investimentos mais sofisticados. Este processo envolve a classificação do cliente de acordo com o ciclo de vida e circunstâncias econômicas, levando em consideração características específicas de cada um. O objetivo é conhecer as preferências, a situação econômica, os objetivos e desejos. Os principais aspectos a serem avaliados são a profissão, a fonte de riqueza, a percepção que se tem em relação ao nível de riqueza e o ciclo de vida atual.

O passo seguinte de deve ser a definição do perfil psicológico do investidor. É preciso entender as preferências de cada cliente na tomada de decisões. Pessoas que desejam segurança e são avessas ao risco são consideradas mais conservadoras e, portanto, tendem a rejeitar investimentos cujos retornos são incertos. Por outro lado, há pessoas que se sentem confiantes em fazer operações constantes com maiores riscos. Uma das formas de descobrir o perfil psicológico é responder aos questionários de avaliação do grau de aversão ao risco – conhecidos como API (Análise do Perfil do investidor).

Ao final deste processo, as partes devem definir, em conjunto, os objetivos de retorno e risco. Vale lembrar que existe uma diferença entre os retornos requeridos e desejados. O primeiro diz respeito ao que é necessário para atingir os principais objetivos financeiros, como por exemplo as despesas durante a aposentadoria. O segundo está relacionado aos objetivos secundários, como uma viagem de férias por exemplo. Para determinar os objetivos de risco, deve-se avaliar a capacidade de assumir riscos e associá-la a disposição de cada um para assumir riscos. Este fator é mais subjetivo e deve ser determinado pelo perfil psicológico de cada um. Investidores que buscam maiores retornos devem sentir-se confortáveis com as possíveis oscilações negativas de seus patrimônios.

Estes são alguns aspectos que devem ser avaliados para a elaboração de uma Política de Investimentos. Este documento serve como um guia na relação do assessor financeiro com o seu cliente. Nele deve estar descrito, por exemplo, a proporção do patrimônio que será destinada a investimentos de maior risco. Vale lembrar da importância em manter recursos numa reserva para possíveis emergências.

Finalmente, os investimentos ligados a moedas estrangeiras, ouro ou cryptomoedas estão sujeitos a variações constantes e difíceis de serem previstas. São investimentos arriscados cujos retornos não podem ser garantidos. Com as taxas de juros mais baixas desconfie das propagandas que ofereçam altos rendimentos. Especialmente se a oferta garantir os resultados.

Alguns fraudadores utilizam linguagem complexa com a intenção de confundir e ao mesmo tempo parecerem sofisticados. Buscar retornos mais altos é algo natural, mas certifique-se de estar ciente dos riscos envolvidos. Na dúvida, seja prudente e preserve o seu patrimônio. Busque ajuda de um profissional qualificado. 

Bruno Mori é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Email:

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 24 de maio de 2020

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