Seu Planejamento Financeiro

Devo investir em um fundo de dólar?

Roberto C. Agi, CFP®, responde: 

A diversificação é uma das principais ferramentas para a gestão de um portfólio de investimentos. Ainda que desejemos uma carteira na qual todos os ativos apresentem resultados positivos, em um portfólio bem diversificado haverá períodos em que alguns dos investimentos da carteira subirão enquanto outros nos farão perder dinheiro. À medida que adicionamos mais ativos à carteira, buscamos aqueles que tenham um comportamento diferente dos demais; isso significa que a correlação entre eles é baixa ou, o que é ainda mais desejável, negativa. Fazendo uma analogia, é como montar um time em que uma partida ruim de um ou mais jogadores é compensada por boas partidas dos demais. Recentemente, no pior momento da crise do coronavírus, ficou bastante claro o efeito da correlação entre os ativos e o impacto nas carteiras.

Praticamente todas as classes sofreram em março de 2020 – renda fixa, multimercados, fundos imobiliários e principalmente ações, com o principal índice da bolsa de valores caindo quase 30% no mês. Uma classe que se destacou foi justamente o dólar, que subiu ao redor de 15% no mês. Isso aconteceu porque a moeda norte-americana é considerada um porto-seguro para momentos de crise e, quando estão em pânico, investidores buscam reduzir o risco a qualquer custo, de modo que países como o Brasil acabam sofrendo com a fuga de capitais e a busca por liquidez. Em um primeiro momento, é importante entender se o seu interesse no investimento em dólar se dá por conta de alguma despesa futura em moeda estrangeira ou por acreditar que alocar em um fundo cambial pode ser benéfico para a performance da carteira.

Além disso, vale reforçar a importância de manter uma reserva de emergência suficiente para cobrir de 6 a 12 vezes suas despesas, que deve estar investida em ativos conservadores e com alta liquidez. Se você não tem despesas em dólar, um fundo cambial não faz sentido para essa reserva.

Acertar o momento certo de valorização ou desvalorização de uma moeda é muito difícil; as taxas de câmbio são influenciadas por diferentes fatores, como taxas de juros locais e externas, fluxos de investimentos, risco-país, preços de bens e serviços, inflação, entre outros. O real hoje, comparado a uma cesta de moedas de países pares, parece estar sobredesvalorizado, mas seu comportamento futuro é imprevisível e não dá para descartar uma desvalorização ainda maior do real diante de uma crise mais aguda.

Faz sentido alocar parte de sua carteira de longo prazo em dólar justamente para reduzir a volatilidade do portfólio nesses momentos, o que funciona como um seguro e consequentemente leva a oscilações menores para cima e para baixo. Uma alternativa à alocação em um fundo que compra apenas a moeda americana é a alocação em ativos dolarizados; hoje já é mais fácil encontrar veículos com essa característica, como fundos internacionais, ETFs, BDRs, ouro etc. É importante atentar que, ao alocar nesses investimentos, agrega-se mais um fator de risco ao portfólio além da variação cambial – por exemplo, quando se compra a bolsa americana em dólar, se o S&P500 cair e o real se valorizar perde-se nas duas pontas.

Um passo importante é fazer um planejamento financeiro para entender qual o retorno necessário para seu portfólio. Diante disso, estabeleça uma política de investimentos que defina quanto se deve alocar em cada classe de ativos, incluindo o dólar. Siga essa política, aumentando ou reduzindo a exposição a cada uma das classes se estiver acima ou abaixo dos limites definidos. Por exemplo, se em sua política definiu-se manter 5% da carteira em dólar e, diante de uma desvalorização mais forte do real, sua concentração atingiu 7%, reduza a exposição e volte para o patamar definido. O contrário é verdadeiro: quando estiver abaixo do determinado, aumente a exposição, pois isso facilita a gestão do patrimônio, evitando a necessidade de acerto no momento de comprar ou vender. Procure ajuda profissional para ajudar no desenho dessa política de investimentos e na definição de quando executar os balanceamentos na carteira.

Roberto C. Agi é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no site Época Negócios em 15 de abril de 2021.

0