Seu Planejamento Financeiro

Empréstimo ou retirar dinheiro aplicado para cobrir despesas?

Devo tirar dinheiro que está aplicado para cobrir minhas despesas durante a pandemia ou melhor pedir um empréstimo?

Rejane Tamoto, CFP®, responde:

A redução ou perda de renda durante a pandemia deve ser tratada de forma cuidadosa no seu planejamento financeiro. A reserva de emergência deve ser utilizada em momentos como esse. Mas antes de acessá-la, faça uma revisão de todas as suas despesas e receitas. Assim terá um retrato detalhado da sua vida financeira para reduzir custos e trazer mais eficiência para sua vida.

Você pode fazer isso ao montar um fluxo de caixa, que é a anotação de receitas líquidas (sem impostos) e despesas em planilha eletrônica, aplicativo ou caderno. Ao anotar as despesas, procure categorizá-las dentro de cada um dos grupos: moradia, alimentação, comunicação, saúde, educação, transporte, lazer e despesas pessoais.

Faça uma análise e escolha quais dessas despesas poderá renegociar ou trocar por outra de menor valor durante a pandemia. É o caso de planos de internet, telefone e TV, que podem ser trocados por meio de portabilidade. Avalie a possibilidade de reduzir contas de energia ao aderir à tarifa branca. Investigue se há desperdícios nas despesas de alimentação e elimine-as. Renegocie aluguel e dívidas.

Se paga prestações de financiamento imobiliário, avalie a possibilidade de pausar os pagamentos, o que pode garantir um fôlego no primeiro momento. Mas atenção: antes verifique as condições do banco para saber quanto pagará em juros por essa pausa. Se essa opção não compensar, avalie o uso do FGTS para amortizar a dívida e diminuir a parcela ou mesmo a portabilidade de crédito imobiliário para outro banco.

É também o momento de olhar para o que você não usa e vender, convertendo objetos esquecidos em dinheiro. Faça uma previsão das receitas e dos gastos futuros e assim terá um orçamento.

Depois disso, é provável que o valor que você pensou em pedir emprestado ou resgatar de sua aplicação diminua. E isso pode ser considerado um ganho, seja porque seus investimentos durarão mais tempo, ou porque você vai comprometer menos o seu futuro.

Mas vamos voltar à sua dúvida: usar o dinheiro aplicado ou pedir empréstimo?

Se esse dinheiro está aplicado na reserva de emergência, em aplicação de renda fixa e de fácil resgate, verifique qual o índice de cobertura de despesas. Divida o total aplicado pelo valor da sua nova despesa mensal. O resultado mostrará quantos meses poderá viver com sua reserva. Nesse caso, é melhor utilizar o dinheiro que você já tem do que usar o crédito.

Pode ser que você tenha feito essa pergunta porque investiu pensando em realizar algum projeto de médio ou de longo prazo, como a aposentadoria.

Se esse for o caso, ou tiver aplicado em investimentos que exigem mais prazo para entregar retorno, procure saber se a rentabilidade é maior do que os juros do empréstimo.

Esse seria um critério mais matemático para ajudar a tomar essa decisão. É importante lembrar que, na maior parte dos casos, os juros do empréstimo tenderão a ser bem maiores do que o retorno do dinheiro aplicado. Por essa lógica, pode ser mais vantajoso fazer o resgate.

Segundo o Banco Central, em maio, a taxa de juros do crédito pessoal foi de 5,1% ao ano. Essa taxa é uma média do que é cobrado pelas instituições financeiras brasileiras, sendo definida de acordo com o perfil de crédito de cada cliente (o chamado score) pelos bancos. Se tiver acesso ao crédito consignado, a taxa média oscila de 1,4% a 2,2% ao ano, e dependerá se você é trabalhador do setor privado, servidor público ou beneficiário do INSS.

Ao utilizar linhas de crédito, comprometerá o seu orçamento futuro. Então faça uma simulação das parcelas na planilha e avalie se há o risco de não conseguir pagar as parcelas no futuro, caso sua renda não volte a subir.

Se sua aplicação está em fundo de Previdência, tenha ainda mais cuidado, pois é sua reserva para o futuro. Além de olhar a rentabilidade, faça uma simulação do resgate para saber quanto pagará em impostos, que incidem nos regimes Regressivo e no Progressivo. Se o investimento for em PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), o resgate não será vantajoso, pois o Imposto de Renda incide sobre o valor principal mais o retorno.

São muitos os detalhes que terá que observar, mas a prioridade é evitar o endividamento e avaliar todas as alternativas. Se não quiser consumir suas aplicações, invista nas dicas iniciais, na montagem do fluxo de caixa e do orçamento. Ao se dedicar a isso, pode precisar de um valor de reserva menor do que imaginou quando enviou essa pergunta. 

Rejane Tamoto é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected] .

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 30 de julho de 2020.

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