Seu Planejamento Financeiro

É confiável investir pelas fintechs?

Sou investidor conservador, mas queria diversificar meus investimentos. É confiável investir pelas fintechs?

Caio Leal, CFP®, responde:

Caro Leitor,

Obrigado pela pergunta, o momento que estamos vivendo é histórico, dado que estamos no menor patamar de juros da história recente do Brasil, pois a Taxa Básica de Juros definida pelo Banco Central (mais conhecida como Taxa Selic) está no patamar de 3,75% a.a.

Desta sorte muitos investidores que se classificam como conservadores, como é o caso do leitor, estão se perguntando se deveriam diversificar seus investimentos para obter as mesmas taxas de retorno de outrora, quando a Taxa Selic estava no patamar de 14% ou 15%.

Como forma de diversificar a carteira, muitos estão considerando migrar para investimentos alternativos, como os oferecidos por algumas Fintech, do inglês: Financial Technology, termo utilizado para definir startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro.

Para concluirmos se os investimentos realizados pelas Fintechs são confiáveis, ou não, discorreremos sobre os seguintes tópicos: (1) os tipos de investimento e perfil de risco; (2) quais são os tipos de investimento oferecidos pelas fintechs; e (3) quais destes investimentos seriam recomendadas para um investidor conservador.

Investimento é uma aplicação de algum tipo de recurso com a expectativa de receber retorno futuro superior ao aplicado. Os investimentos podem ser divididos em renda fixa ou renda variável, as aplicações em renda fixa são investimentos cujo rendimento (taxa de juros) é determinado no momento da compra do título, podendo ser pré-fixada ou pós-fixada. Do outro lado, nas aplicações de renda variável os rendimentos não são conhecidos, ou não podem ser previamente determinados, pois dependem de eventos futuros, tais como os fatores conjunturais e econômicos, e, regra geral, possibilitam maiores rendimentos, porém o risco de eventuais perdas é bem maior.

O perfil de risco define, basicamente, a tolerância ao risco. Existem três tipos de perfil de risco do investidor: conservador, moderado e arrojado. Uma boa análise de perfil de risco leva em conta muito mais do que a tolerância para correr riscos, avalia também a capacidade e a necessidade de correr riscos, de forma muito particular – levando em consideração aspectos como o momento de vida do investidor, sua estrutura familiar, padrão de vida e outros fatores que possam influenciar na escolha de investimentos.

Os investidores conservadores, como é o caso do leitor, preferem investir em investimento que oferecem baixo risco, priorizando opções com segurança e liquidez em lugar de buscar alta rentabilidade. Esse tipo de cliente prefere investimentos com retornos previsíveis (baixa volatilidade), normalmente buscando investimentos de renda fixa.

Superada a questão sobre os investimentos e também sobre o perfil de risco, vamos aos tipos de investimento oferecidos pelas Fintechs.

Existem diversos tipos de fintechs no mercado, e nem todos os investimentos de fintechs são para investidores arrojados, quais sejam, aqueles que procuram alto rendimento, independente do risco da operação, seja pela segurança, liquidez ou volatilidade.

Temos as fintechs de crédito que concedem empréstimos para empresas de médio e pequeno porte, e distribuem os rendimentos para os investidores. As operações, em média, oferecem um retorno bem acima do CDI, contudo, não possuem as garantias oferecidas pelos papéis oferecidos pelos bancos (CDB, LCI, LCA), dado que não há proteção do FGC e a própria Fintech não garante a liquidação do papel. Sendo assim, podemos dizer que, apesar de se enquadrarem como renda fixa, estes investimentos possuem alto risco de crédito e liquidez, não sendo recomendados para investidores conservadores. No mais, algumas não são reguladas pelo BACEN, e os instrumentos financeiros carecem de proteção jurídica dos títulos de renda fixa usuais.

Vale também citar as fintechs especializadas na execução das ordens de compra e venda de ações, que por sua natureza se enquadram na renda variável, oferecendo plataformas para investidores operarem na bolsa de forma automatizada, podendo configurar sua estratégia nos robôs (algoritmo online), que enviam as ordens diretamente para as principais corretoras do país. Neste caso, como estamos falando compra e venda de ações, não há risco inerente à fintech, mas sim à classe de ativos (renda variável) que possui um grau superior de risco. Desta forma, o investidor conservador precisa definir quanto do patrimônio vai ser alocado nesta estratégia e verificar se a custódia das ações é realizada por uma corretora regulada pela CVM.

Temos também os investimentos em crowndfundings, que são uma forma de financiamento de Startups. Neste caso, corremos baixo risco da plataforma (fintech) e alto risco no investimento, pois as empresas não são maduras e podem facilmente deixar de existir, fazendo com que o investidor perca todo o capital investido. Aqui também temos uma baixa confiabilidade (risco de fraude), pois em geral este tipo de investimento não é regulado pelos órgãos de controle e é realizado com baixa formalização pelas plataformas.

Um outro bom exemplo de fintechs são as focadas em carteiras administradas, com elas o investidor consegue detalhar o perfil de investimento e manter a posição conservadora, mesmo investindo via fintech, pois eles realizam uma gestão de patrimônio online e personalizada de acordo com seus objetivos, para que o investidor não se preocupe em ficar analisando e selecionando produtos financeiros, pois o gestor faz isso com tecnologia, sofisticação e total transparência. Caso o investidor escolha aplicar seus recursos na carteira administrada, nossa recomendação é que ele busque mais informações sobre a instituição financeira que fará a custódia dos Ativos, principalmente se esta instituição é regulada pela CVM/BACEN, de modo a proteger seus investimentos de uma eventual fraude. No mais, os riscos estão basicamente ligados à gestão dos ativos pela fintech.

Os bancos digitais, que podem ser classificados como fintechs, oferecem investimentos interessantes como conta corrente remunerada, com aplicação automática em CDB com rentabilidade maior que poupança. Novamente aqui temos baixo risco do investimento (renda fixa), uma alta confiabilidade, mas um grau moderado de risco de crédito na fintech, contudo, o FGC protege as aplicações realizadas com saldo de até R$250 mil.

Concluindo, repassamos os principais tipos de fintechs e os riscos atrelados aos investimentos. Desta forma, recomenda-se que o investidor conservador busque, dentre os mais diversos tipos de investimentos (renda fixa e variável) aqueles que oferecem o melhor retorno, dentro daquele grau de risco que o investidor está confortável em correr, seja ele de crédito, de liquidez ou mercado. Lembrando que, pensando em uma carteira de investimento, é possível destinar uma parcela dos recursos para investimentos de risco, sem que haja o desenquadramento do perfil conservador. Quanto a confiabilidade, o investidor conservador deve buscar sempre as fintechs reguladas pelos órgãos de controle (BACEN/CVM), procurando sempre bons custodiantes para as aplicações financeiras, minimizando assim o risco de fraude.

Um bom planejamento financeiro envolve a diversificação de investimentos, para que os ovos não sejam colocados em uma única cesta, desta sorte, o investidor precisa verificar quanto do seu patrimônio será destinado a investimentos em instrumentos tradicionais e quanto será alocado em investimentos não tradicionais, como os oferecidos por algumas fintechs comentadas acima.

Colocou tudo na ponta do lápis? Então procure um profissional autorizado e comece a investir!

Caio Leal é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

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Texto publicado no site Época Negócios em 28 de abril de 2020.

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