Seu Planejamento Financeiro

Uma ação que possa trazer muito resultado ou diversificar?

“Conversando num grupo de amigos num happy hour, comentaram sobre um livro que diz que só é possível maximizar o ganho no mercado financeiro se fizer uma aposta num ativo que possa trazer muito resultado. Mas eu sempre escuto que devo diversificar e fico confuso. Como entender o que é melhor pra mim?”

Gisele Colombo, CFP®, responde:

Essa questão é mais comum do que se possa imaginar, afinal quem nunca assistiu filmes em que um grande lance muda a vida de um contumaz desafortunado?

Não responderei sua questão, proponho que comecemos a pensar juntos e, ao construir um raciocínio, você possa ter uma convicção sólida de seu ponto de vista.

Vamos ao exemplo do empreendedor, que utiliza seus recursos pessoais e materiais para montar um negócio, construir sua fortuna. No Brasil, a cada 100 empresas iniciadas a partir de 2010, menos de 40% sobreviveu mais do que cinco anos (dados do IBGE no relatório de outubro de 2018). O que isso significa?

Agora, tomemos como base o investidor no mercado acionário brasileiro, que ainda representa uma parcela pequena dos cidadãos investidores do país (onde, infelizmente, há poucos investidores). Imagine que em 1995, logo após o Plano Real, você escolheu aplicar em uma das “blue chips” para maximizar seu retorno, uma única ação. Quais dessas empresas ainda são negociados hoje na bolsa brasileira? Não se trata de depreciar a qualidade de qualquer empresa, mas elas tiveram destinos diferentes, fecharam capital, foram cindidas ou incorporadas por outras e continuam a existir, não como eram.

Agora, podem te dizer que você teria escolhido errado. Muito, muito simples falar sobre a “obra” depois de concluída, mas não é trivial decidir onde investir. O mercado muda, cada vez mais rápido, empresas surgem de forma pujante (veja os “unicórnios” da nova economia ganhando força pelas soluções tecnológicas, como Facebook, Google). E outros ícones podem desaparecer por ficarem rapidamente obsoletos (alguém lembra do caso da Kodak, líder isolada em máquinas fotográficas? Aliás, havia máquinas fotográficas antes do celular? Uma brincadeira aqui…).

Essas provocações têm objetivo de exercitar questionamento sobre as escolhas, acompanhamento dos investimentos e sobre um componente que os cérebros mais racionais detestam incluir nos modelos de projeção, a sorte (ou acaso, como diria Leonard Mlodnov no seu espetacular livro “O Andar do Bêbado”). É por acaso, para resolver um problema real, que surgiram as empresas de “share driving” (a Uber deve ser a mais conhecida). Também foi por acaso, para tentar melhorar o índice de paqueras bem-sucedidas na universidade que surgiu o Facebook.

Vamos ao ponto central desta reflexão: em investimentos, não existe milagre, mas até pode existir sorte, sendo mais comum o azar (do qual ninguém fala nas festas de casamento e nas viagens com amigos).

Ao estudar seriamente o mundo dos investimentos financeiros chega-se à conclusão que diversificar suas “apostas” em ativos diferentes se concretiza como a melhor forma de obter resultados consistentes.

A boa notícia é que existem formas já testadas que podem auxiliar nessa busca por construir uma carteira de investimentos bem-sucedida. Se você já ouviu falar em “Alocação por Classe de Ativos” ou “Asset Allocation”, pode prestar atenção porque trata-se de escolher os melhores produtos para o seu caso (não existe um “melhor investimento universal”, cada indivíduo é particular, único).

Porém, se estruturar um portfólio fosse simples, uma grande quantidade de profissionais do mercado financeiro deveria estar em outras ocupações. Não se trata de um caminho fácil. Montar uma estratégia de investimentos começa com o conhecimento básico sobre suas finanças pessoais, seus objetivos, orçamento, necessidades básicas de preservação de capital, espaço para assumir riscos, entre outros.

Após identificadas suas possibilidades e limitações, é fundamental construir um cenário principal e definir reservas para emergências, pois elas amortecem os problemas e devem ser alocadas em produtos mais previsíveis e que possam ser acessados a qualquer momento (alta liquidez).

Somente a partir daí inicia-se a escolha do portfólio completo que deve ser monitorado e ajustado – a vida e o mercado mudam o tempo todo – estar atento e bem assessorado é que traz o sucesso e o retorno adequado ao longo dos anos

A Educação Financeira é uma questão fundamental, a tal ponto que, para discutir o assunto, foi criado o dia mundial do Planejamento Financeiro e a IOSCO, Organização Internacional das Comissões de Valores, com a coordenação no Brasil da CVM, criou a semana mundial do investidor.

Minha mensagem final: reflita, estude e conte com profissionais para te ajudar. Você terá estórias melhores para contar nos seus “happy hours”!

Gisele Colombo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site Época ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 08 de outubro de 2019.

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