Seu Planejamento Financeiro

Endividado e pensei em vender minha casa. É uma boa opção?

Jaques Cohen, CFP®, responde:

O manuseio do dinheiro envolve um universo emocional que muitas vezes toca em angústias profundas. Sentimento que pode ser potencializado pela situação de endividamento. Quando nos sentimos assim, é comum que tenhamos ânsia por respostas rápidas e pouco reflexivas, como “sim, venda” ou “não, não venda”. Mas como cada decisão financeira se encaixa em um contexto único, te convido a pensarmos juntos a alternativa que cogitou em sua pergunta.

Antes de tudo, precisamos de mais informações sobre a conjuntura geral das suas finanças. Vamos imaginar um mundo no qual as dívidas não existissem: você saberia responder quanto ganha e quanto gasta?

Sem isso, não teremos um primeiro contexto para sua decisão. Tenha paciência ao fazer esse levantamento. Muitas vezes não conseguimos fazê-lo de forma realista. E isso acontece por uma serie de motivos.

Na pressa de resolver, podemos pular etapas e ir cortando despesas enquanto ainda não terminamos de listá-las; podemos não considerar despesas que acontecem de forma irregular ao longo do ano, como matriculas, ipva, imprevistos, etc; ou simplesmente nos esquecer de alguns gastos.

Feito um bom orçamento, estaremos munidos para olhar mais de perto para as suas dívidas.  Você sabe dizer quanto teria que ter hoje para liquidá-las? Primeiro vamos avaliar se é possível quitar esse valor sem a venda da casa.

Sugiro seguir essa linha de raciocínio, pois muitas vezes o assunto se mostra delicado, já que uma casa sempre tem suas histórias e significados. Nesse planejamento, precisaríamos saber que tipo de dívidas você tem e remanejá-las para garantir que são as mais baratas a disposição (menores taxas). Uma das alternativas que pode simular é o próprio refinanciamento do imóvel, ao qual terá mais fácil acesso se este estiver quitado.

De todo modo, ao avaliar as alternativas, o ideal é contar com a regularidade dos parcelados e eliminar dívidas rotativas, como as do cheque especial. Como relata uma situação de aperto, acredito que você também terá que esticar prazos para trabalhar com parcelas menores.

Com isso, passamos para algumas questões cruciais. Realizando esses ajustes nas dívidas e avaliando o que pode abrir mão no seu orçamento, quanto da sua renda estaria destinada a pagar parcelas?  Você conseguiria terminar o mês no azul? Não?  Seria possível obter a diferença com alguma renda extra no curto prazo?

Tais respostas serão fundamentais, pois revelarão o seu grau de endividamento e sua margem para ação. Se após negociar taxas, fazer sucessivos cortes de orçamento e cogitar alternativas de aumento de renda as contas não fecharem, então a venda da casa pode ser a solução que temos em mãos.

O cuidado, porém, é olhar para a eficácia dela. Uma solução ideal ataca o cerne de uma questão. E apesar de você nos trazer uma questão que a primeira vista é financeira e matemática, esse endividamento certamente tem uma origem.

Você descreve a sua situação como um buraco, do qual não consegue sair. O que te levou ele? Alguma situação específica? Alguma questão emocional por detrás de hábitos?

Dependendo do seu grau de endividamento, vender a casa pode ser a única solução à disposição. Mas sem fazer uma reflexão a respeito da origem de suas dívidas, ela pode ser uma solução temporária.  Um tapa-buraco.

Além da reflexão será preciso um planejamento, que contemple, entre outros, seus novos gastos de aluguel e moradia. Por isso, considere contar com um planejador financeiro nessa jornada. Uma boa escuta pode ajuda-lo a enxergar mais claridade dentro desse “buraco” e lidar melhor com essa delicada decisão que envolve a venda da sua casa.

Antes de terminar, ressalto a importância de encarar a situação com protagonismo, olhando a diante e sem se ater a um remorso excessivo por decisões que foram feitas lá atrás e já não podem ser revistas.

Caso não lhe reste alternativa, tente acomodar a ideia de que um lar é muito mais que um imóvel. Um lar inclui também a história e os relacionamentos que você constrói dentro e no entorno dele. Estas permanecerão com você em quaisquer rotas que forem escolhidas.

Jaques Cohen é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiro. E-mail: [email protected]

Este artigo foi publicado originalmente na Época Negócios. As respostas refletem as opiniões do autor, e não da Época Negócios ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 24 de outubro de 2017

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