Consultório Financeiro

Endividado: os primeiros passos para se recuperar

Uma funcionária minha está extremamente endividada e sempre necessita de adiantamentos de salário. Entendo que algo deve ser feito e gostaria de saber como posso ajudá-la. Quais medidas ela deve tomar?

Fabio Caldas, CFP, responde:

Caro leitor, essa é uma situação muito mais comum do que imaginamos e é fruto de uma recente mudança no perfil de consumo da população brasileira, aliada ao fácil e crescente acesso ao crédito e à baixa educação financeira.

De início, sua funcionária deveria focar os seus esforços em equalizar receitas e despesas e cortar tudo que for supérfluo. Com certeza é mais fácil falar do que fazer, mas se o objetivo dela é ter uma vida financeira saudável não há outro jeito: ela deve evitar contrair novas dívidas, pagar as parcelas em dia e posteriormente criar uma poupança – esse último ponto é importante para evitar que ela volte a viver esse drama.

O segundo passo é identificar todas as dívidas que ela possui e quais são as taxas de juros cobradas por elas. Por incrível que pareça, muitas pessoas não sabem o quanto devem e quais são os custos totais envolvidos, e por isso não têm ideia de por onde devem começar. De acordo com uma pesquisa do Banco Central (BC) divulgada este mês, dentre os instrumentos financeiros disponíveis no mercado, o que apresenta o maior nível de taxa de juros é o crédito rotativo do cartão de crédito, que gira em torno de 403% ao ano. Como comparação, a Selic (taxa básica de juros da economia e principal instrumento de política monetária do BC) está em 14,25% ao ano, ou seja, o juro do cartão de crédito é aproximadamente 28 vezes maior que o juros atuais.

Feita essa análise é hora de recorrer ao banco no qual ela tem conta e tentar conseguir uma linha de crédito com taxas menores do que as de suas dívidas e com parcelas que cabem no orçamento familiar. A ideia aqui é trocar dívidas caras por uma mais barata e, consequentemente, facilitar todo o processo de reestruturação financeira. Conforme a mesma pesquisa, a taxa de juros de empréstimo pessoal chega a 61,2% ao ano, seis vezes e meia menor do que os juros da linha de crédito citada acima e é por isso que essa opção é tão importante e deve ser considerada.

Agora, se nada disso for possível – ainda mais porque pessoas nessa situação tem dificuldade para conseguir linhas de crédito, já que provavelmente estão negativadas -, é hora de tentar negociar com as instituições credoras, que muitas vezes estão abertas para conversar. Mas vale lembrar que elas têm todo o direito de se negar a chegar a um acordo, já que o cliente assinou um contrato no qual estavam presentes as condições do que estava sendo contratado. O Procon possui o PAS (Programa de Apoio ao Superendividado) que poderá auxiliá-la neste processo.

Um vez que essa situação tenha ficado para trás, é importante que ela tenha consciência de que muitas vezes vale mais a pena postergar o consumo e pagar suas compras à vista – o que em geral pode proporcionar bons descontos – do que pagar juros para se ter os bens desejados hoje. Planilhas de controle financeiro pessoal estão disponíveis gratuitamente na internet e podem ajudá-la a ter uma gestão mais eficiente de seu fluxo de caixa.

Por fim, encontrar o ponto ideal entre poupar e gastar, parcelar ou pagar à vista leva tempo e muita dedicação, mas certamente fará grande diferença na vida de sua funcionária. O equilíbrio financeiro possibilitará a ela ter uma vida mais confortável e permitirá que ela poupe para pagar por sonhos e não por dívidas.

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou do IBCPF. O jornal e o IBCPF não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 28 de setembro de 2015.

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