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Estou com mais empréstimos do que posso pagar. Como reorganizo minha vida financeira?

Estou com mais empréstimos do que posso pagar e um deles tem a taxa de juros de 10%. Gostaria de alguma linha de ação para reorganizar minha vida financeira. Andei pesquisando sobre insolvência civil e gostaria de saber se isso me ajudaria a arrumar essa grande bagunça.

Deise Machado, CFP®, responde:

O primeiro plano de ação para reorganizar sua vida financeira é entender o que originou todos esses empréstimos, pois, mesmo que um dia você consiga quitar tudo, se o problema que originou essas dívidas não for solucionado as chances de voltar a acontecer são grandes.

Comece fazendo um “raio x” da sua vida financeira, anotando todas as despesas e separando os custos fixos (água, luz, telefone, aluguel, financiamento da casa, financiamento do carro etc.), os custos variáveis (supermercado, gasolina, lazer etc.) e as despesas financeiras sem garantia (saldo devedor de cheque especial, cartão, parcelas de empréstimos).

Depois calcule quanto da sua renda está comprometida com os custos fixos e veja o que pode ser substituído, reduzido ou cancelado. Vender o carro e se livrar do financiamento, mudar para uma casa com aluguel mais baixo ou mesmo cancelar serviços de assinatura podem ser boas alternativas para gerar uma folga no orçamento.

Para os custos variáveis, o ideal é levantar os extratos da conta e faturas de cartão de crédito de pelo menos três meses. Faça uma autoavaliação e veja se todas as despesas realizadas eram realmente necessárias ou foram feitas sem planejamento. O plano de ação aqui é cortar gastos desnecessários e definir uma meta máxima de gastos para as despesas variáveis. Não despreze pequenas despesas, pois somadas podem gerar uma grande economia.

Em seguida avalie a sua capacidade de gerar novas fontes de renda. Muitas vezes cortar gastos não será suficiente para resolver o problema. Um trabalho temporário que consiga fazer nas horas vagas ou no final de semana pode gerar uma renda extra que vai ajudar a sair dessa situação mais rápido.

Com o orçamento em ordem, chegou a hora de renegociar com os credores. Lembre-se de que, dentro do seu orçamento, você precisa separar uma parte da renda para pagar os empréstimos contraídos.

Entre em contato com todos os bancos e financeiras e tente renegociar os contratos atuais alongando o prazo e reduzindo as taxas de juros. Você também pode tentar substituir as dívidas mais caras por uma linha de crédito mais barata, como por exemplo o crédito consignado, o crédito de antecipação do saque aniversário FGTS, do 13º salário, do imposto de renda ou mesmo um crédito com garantia de imóvel ou veículo que estejam quitados em seu nome.

Se você conseguir reduzir os juros dos contratos e alongar os prazos de forma que as parcelas caibam no seu orçamento, é só seguir à risca o planejamento feito até quitar todos os contratos.

Agora, se mesmo depois de organizar o seu orçamento e fazer todos os acordos e renegociações com os credores você não conseguir pagar suas contas básicas de consumo e as parcelas dos empréstimos, você pode buscar a Defensoria Pública da sua cidade e verificar se é possível ser enquadrado na Lei 14.181/2021 do superendividamento.

Essa lei viabiliza uma forma de negociação para aquelas pessoas que têm muitas dívidas, estão inadimplentes e não conseguem pagar.

Na prática, a Lei permite que o consumidor superendividado entre com um pedido de repactuação de suas dívidas e realize uma audiência de conciliação com seus credores na presença de um juiz ou um conciliador.

O devedor deve apresentar um plano de pagamento com prazo máximo de 5 anos incluindo todas as suas dívidas em um único “pacote” e demonstrar que conseguirá pagá-las com suas fontes de renda e ainda preservar um valor mínimo para as suas necessidades básicas.

As dívidas permitidas são aquelas de empréstimos, crediários e contas de consumo como água, energia e carnês de lojas. Não podem ser incluídos pagamentos de impostos, pensão alimentícia e créditos com garantia real (habitacional, de veículos, rural etc.).

Se os credores não concordarem com a proposta de pagamento feita pelo devedor, caberá ao juiz determinar valores, prazos e forma de pagamento.

Dívidas em excesso podem comprometer as necessidades básicas das famílias, por isso é importante fazer um bom planejamento financeiro antes de entrar com uma proposta de acordo.

Lembre-se: nada adiantará fazer um acordo e colocar as finanças em ordem se o que causou o endividamento não for tratado.

Deise Machado Fina é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 28 de Junho de 2022

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