Consultório Financeiro

Estou preparado para a aposentadoria?

Estou com 70 anos e tenho R$ 2 milhões em aplicações. Gasto R$ 20 mil por mês e recebo R$ 1 mil do INSS. Como estou para aposentadoria?

Marco Harbich, CFP®, responde: 

Prezado(a) leitor(a),

Pelo que entendi, existe uma preocupação acerca da manutenção do padrão de vida durante a aposentadoria. Certamente o valor que você acumulou não é pequeno e precisa ser analisado como pode ser melhor empregado. Afinal, após um longo período na ativa, você merece ter uma melhor qualidade de vida.

Conforme dados do IBGE de 2016, no nascimento, a expectativa de vida do brasileiro é 76 anos. Porém, aos 70 anos, o tempo médio de vida aumenta para 85 anos, pois o brasileiro está vivendo mais e de forma mais saudável.

Pelo exposto no questionamento, você precisa de 1% ao mês para pagar os custos de vida. O cenário atual é de taxa Selic a 6,50% ao ano. Conforme o IBGE, o IPCA (índice oficial de inflação no Brasil) está uma média de 0,23% ao mês. O montante atual renderia mensalmente 0,30% em termos reais, ou seja, além da inflação. Em valores, este recurso teria uma rentabilidade real de R$ 6 mil, o que já faz pensar no planejamento para cortes de gastos.

Como o seu objetivo é começar a desfrutar uma merecida aposentadoria, não acho interessante assumir riscos de mercado para se tentar buscar uma maior rentabilidade. Para que pague os custos totais atuais, a carteira deveria render mensalmente 0,95% (após a inflação e Imposto de Renda), ou seja, 12,01% ao ano, o que seria impossível em um perfil conservador.

Com o montante de R$ 2 milhões, juros a 6,5% ao ano, inflação a 2,68% nos últimos 12 meses e com custo de vida mensal de R$ 20 mil, este recurso duraria 9,92 anos (considerando que recebe R$ 1 mil do INSS e descontando o Imposto de Renda da aplicação).

Considerando que você viva até 100 anos, mantendo os parâmetros anteriores, você deverá ter R$ 4,670 milhões. No cenário de você viver até os 100 anos e chegar nesta idade com o valor futuro igual a zero, sugiro ajustar o seu orçamento, pois só poderá gastar mensalmente R$ 8.011,95 (já descontada a inflação e Imposto de Renda dos investimentos).

No seu cenário de idade e com a expectativa de aposentadoria, a melhor sugestão é rever todos os teus custos e verificar quais pontos podem ser cortados para que os seus objetivos financeiros sejam atingidos com uma rentabilidade menor e seu dinheiro tenha uma maior longevidade.

Existem muitas maneiras de cortar custos sem perder o padrão de vida, por exemplo: transformar o celular pós pago para pré-pago para que possa limitar os custos; evitar desperdícios em restaurantes; em supermercados, ao invés de fazer a compra para um mês inteiro comprar semanalmente somente o necessário daquela semana; caso faça refeições em restaurantes constantemente, diminuir a frequência; verificar se existe um produto substituto mais barato ao que pretende comprar, etc. Contudo, não poderá esquecer que os custos com saúde (plano de saúde, farmácia etc.) podem aumentar e isso deverá entrar no fluxo de caixa.

A escolha do ativo a investir é crucial na formação da carteira. Esta definição é oriunda das suas tolerâncias de risco e liquidez. Caso possas deixar uma parte dos recursos sem liquidez, a rentabilidade será maior. Para o seu perfil existem produtos de renda fixa, nos quais podem ser verificadas as melhores rentabilidades, considerando o risco de crédito do emissor. Contudo, não pode esquecer da reserva de emergência, em que aconselha-se deixar aplicado, com liquidez imediata e investimento conservador, o valor equivalente entre 3 e 6 vezes o seu custo de vida mensal para qualquer imprevisto. Neste cenário incerto, é recomendável aumentar a relação para entre 5 e 10 vezes.

Além da aposentadoria, se for o caso, sugiro verificar a sucessão patrimonial com o objetivo de preparar a família para custos com o inventário e impostos de transmissão de bens.

Então, é importante procurar um planejador financeiro certificado para buscar mais instruções sobre qual instituição aplicar, riscos, custos com impostos e operações e realizar acompanhamentos periódicos da carteira para se certificar se os seus objetivos de rentabilidade serão atingidos.

Abraços, espero ter ajudado e desejo muito sucesso.

Marco Harbich é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 18 de junho de 2018

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