Consultório Financeiro

FIDC é oportunidade agora ou pode sofrer com inadimplência?

Estou pensando em investir em FIDCs. Em meio à pandemia, esse tipo de investimento é uma oportunidade ou tende a sofrer com alta inadimplência?

Paulo Ribeiro, CFP®, responde:

Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) são veículos de investimento assemelhados à renda fixa. Estão na categoria de aplicações em crédito privado. São fundos de investimento estruturados, de maior complexidade, o que exige do investidor um mínimo de conhecimento sobre o mercado de capitais. Por isso, atualmente são restritos a investidores qualificados.

O mercado financeiro brasileiro conta com quase 2 mil FIDCs, geridos por mais de 230 gestores, conforme dados da CVM. No início da pandemia, os FIDCs, assim como a classe de fundos de crédito privado, sofreram resgates por conta do aumento da incerteza e da redução da taxa Selic. Em 2020, a categoria encolheu quase R$ 15 bilhões. Porém, esse movimento foi revertido em 2021, fazendo com que o saldo aplicado em FIDCs atingisse mais de R$ 300 bilhões, um recorde. Grande parte desse fluxo é explicada pela retomada dos juros.

Os FIDCs estão, via de regra, sujeitos ao ciclo de crédito e ao ciclo da taxa-base de juros da economia. Na fase atual dos ciclos, a inadimplência está (por ora) baixa e a taxa de juros segue em elevação. Nesse cenário, investimentos em renda fixa pós-fixados em DI com risco de crédito controlado possuem maior atratividade. Logo, a busca por FIDCs nessas condições tende a aumentar.

Vale ressaltar também que os FIDCs podem ser de condomínio aberto ou fechado. Em 2016, três em cada quatro FIDCs possuíam condomínio aberto, o que permitia aos investidores solicitar resgate a qualquer momento e receber os seus recursos após o prazo de solicitação definido em regulamento. Essa relação se inverteu com o passar do tempo. Hoje em dia, quase 70% dos FIDCs possuem condomínio fechado, portanto os investidores precisam aguardar até o vencimento para reaver os seus recursos aplicados ou buscar algum interessado em suas cotas no mercado secundário. Isso tornou o FIDC, na percepção do investidor, um instrumento financeiro mais próximo de um título de renda fixa do que de um fundo de investimento tradicional.

Cabe, adicionalmente, destacar as diferentes formas de se investir em um FIDC. A maioria desses fundos é ofertada em classes, que costumam variar entre sênior, mezanino e subordinada. A classe sênior é a menos arriscada, a mezanino possui risco intermediário e a subordinada tem maior risco, sendo sua principal fonte de risco a possibilidade de não pagamento. Em caso de sinais de alta de inadimplência, a cota subordinada será a primeira a sofrer com perdas. A decisão por alocar os recursos em cada uma das classes depende do perfil de risco de cada investidor.

Em suma, os FIDCs são interessantes ativos financeiros para compor a carteira de investidores na categoria de instrumentos de renda fixa. Eles complementam o rol de produtos de crédito e trazem maior diversificação ao portfólio. Porém, a alocação nesse tipo de ativo depende da política de investimento e do perfil de risco do aplicador, e de uma análise criteriosa do regulamento do FIDC em que se pretende investir. A CVM está prestes a liberar o FIDC ao público em geral, derrubando também o limite de aplicação mínima de R$ 25 mil. Diante disso, fica ainda mais importante redobrar os cuidados ao avaliar o investimento em FIDCs, independentemente da fase do ciclo econômico. O FIDC é um veículo de investimento e não um investimento per se.

Paulo Ribeiro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected].

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Texto publicado no jornal Valor Econômico em 23 de Maio de 2022.

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