Seu Planejamento Financeiro

Fiz um VGBL no passado. Hoje é um bom investimento?

Em junho do ano passado, fiz um plano de previdência privada (VGBL) que cobra uma taxa de administração de 3% ao ano e fui depositando R$ 100 por mês. Hoje, sei que esse não é um bom investimento, mas o que faço agora? Tiro agora o dinheiro que está no plano ou deixo mais tempo?

José Raymundo de Faria Junior, CFP®, Responde:

Caro leitor,

Em primeiro lugar parabenizo a sua atitude de buscar um produto financeiro viável para complementar a renda na aposentadoria, e o VGBL é um produto muito interessante para esta finalidade! E mais, tem outras características importantes como a possibilidade de deixar renda para algum beneficiário e a questão de não passar pelo inventário, fato que permite o seu pagamento de forma ágil desde que o VGBL não tenha sido convertido em renda.

Sobre a questão de resgatar os recursos e optar por outro investimento é importante discutir sobre o Imposto de Renda (IR) e, como não comenta sobre tributação em sua pergunta, veja o resumo abaixo:

a.       Tabela regressiva: alíquota do IR é decrescente, começa em 35% e termina em 10%. A cada 2 anos, a alíquota cai 5 pontos percentuais, assim após 10 anos, os primeiros depósitos serão tributados a 10%. Este é um dos motivos que recomendamos previdência privada para longo prazo: resgates após pouco tempo de aplicação sofrem incidência alta de IR;

b.      Tabela progressiva: alíquota do IR pode atingir até 27,5%. Porém, dependendo da sua renda, este rendimento pode estar isento.

Assim, verifique qual é o regime tributário do seu VGBL. O mais comum é o regime de tributação regressivo e, se este for o caso, sofrerá incidência de IR de 35% sobre os rendimentos, mas devido o pouco tempo que possui a aplicação (menos do que 1 ano), o IR não será elevado. Especificamente para o seu caso, ponderando o que recebeu de juros e o valor do IR devido, este não deve ser um fator impeditivo para resgatar o investimento.

Porém, antes de sacar os seus recursos e buscar outra aplicação, note que desde novembro de 2015 a previdência privada passa por profundas mudanças que beneficiam o investidor e, hoje em dia, temos fundos PGBL e VGBL com características de gestão distintas mesmo com investimento inicial ou mensal baixo. Assim, é possível encontrar ofertas de fundos com gestão passiva (mais tradicionais e que seguem a taxa CDI) ou fundos com gestão ativa (mais arriscados e que buscam retorno superior a taxa CDI e que podem investir em ações, imóveis e no exterior).

Para buscar retorno maior é preciso estar disposto a aceitar risco maior e, por isto, é necessário verificar o seu perfil de investidor. Os bancos e as gestoras destes fundos de previdência privada fazem esta verificação e vão indicar se você está apto a aplicar em fundos mais arriscados. Assim, é possível que a solução para o seu problema seja adequar a aplicação ao seu perfil de investidor.

Em todo caso, é muito provável que esta percepção negativa do seu investimento decorre principalmente da taxa de administração do produto contratado, que é alta, mesmo para um fundo de gestão ativa (mais arriscado).

Neste momento, abril de 2018, convivemos com a taxa de juros Selic (a taxa básica da economia e definida pelo Banco Central) mais baixa da história: 6,50% ao ano. Este juro baixo, aliado a uma taxa de administração alta, eleva a percepção que o dinheiro não está rendendo. Mas há o lado bom: isto nos força a buscar produtos financeiros melhores!

De forma bem simples e didática e supondo que o seu plano VGBL tenha gestão passiva e, por isto, tem por objetivo remunerar a taxa CDI (que é uma taxa de juros com retorno muito semelhante a taxa Selic) e supondo que alcance sucesso, o retorno líquido será: 6,50% (taxa CDI) – 3,0% (taxa de administração), algo em torno de 3,50% ao ano! Agora, imagine que consiga aplicar em um VGBL com taxa de administração de 1,0% ao ano: o seu retorno ficará em torno de 5,50%!

Abaixo fiz uma simulação supondo: 1) que a taxa do CDI irá permanecer neste patamar pelos próximos 30 anos; 2) que a inflação será de 3,0% ao ano (próxima a inflação atual); e 3) duas alternativas para a taxa de administração. Pense que é apenas exercício didático para perceber o custo que está incorrendo com esta taxa de administração atual, ou seja, não é estudo de cenário. Os cálculos foram feitos baseados na tabela de IR regressiva (que tem alíquota de 10% sobre os rendimentos gerados pelo VGBL após 10 anos), que não é necessariamente a mais indicada para você:

Alternativa 1: depósitos mensais de R$100,00 por 30 anos em VGBL com taxa de administração de 1,0% ao ano e alíquota final de Imposto de Renda de 10% sobre os juros acumulados.

Valor líquido final de R$50.580,00 (o valor está em reais de hoje e não em reais de 2048).

Alternativa 2: depósitos mensais de R$100,00 por 30 anos em VGBL com taxa de administração de 3,0% ao ano e alíquota final de Imposto de Renda de 10% sobre os juros acumulados.

Valor líquido final de R$37.944,00 (o valor está em reais de hoje e não em reais de 2048).

Ou seja, diferença de incríveis 33%! Este é o retorno a mais se fizer uma boa pesquisa de produtos!

Respondendo sua dúvida: o recomendável é, em primeiro lugar, verificar o seu perfil de investidor e buscar no mercado planos VGBL com taxa de administração abaixo do que paga atualmente. Produtos mais tradicionais (gestão passiva, que seguem a taxa CDI) podem cobrar taxa de administração de 1% ao ano mesmo com R$100,00 de aporte mensal, mas talvez os encontrem somente fora da rede bancária tradicional e, por isto, pesquise! E, se o seu perfil for de investidor considerado moderado ou agressivo, poderá optar por VGBL com gestão ativa, que geralmente tem taxa de administração próxima de 2%, mas que poderá proporcionar retorno maior por poder aplicar em ações e outros mercados.

Com relação ao saldo que tem hoje, você pode pedir a portabilidade para o novo fundo, estratégia que não gera custo de IR. Uma questão muito importante a observar são os eventuais custos de transferência do aporte mensal, afinal, se tiver que pagar TED/DOC para aplicar, o retorno esperado será menor. Finalmente, quando o valor do seu VGBL estiver maior ou quando estiver em condições de elevar os aportes, pesquise novamente. Lembre-se que em geral os melhores produtos são acessados com valores maiores e você poderá utilizar novamente da estratégia da portabilidade para isto. 

Sucesso em sua tarefa!
José Raymundo de Faria Junior é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 15 de maio de 2018.

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