Consultório Financeiro

Investir ou pagar o financiamento imobiliário?

Tenho R$ 30 mil em poupança e R$ 40 mil na conta corrente disponível para investir. Tenho um financiamento imobiliário (devo R$ 80 mil à Caixa), com parcela de R$ 830. Meu salário líquido é de R$ 5 mil, ou seja, consigo pagar com tranquilidade o imóvel onde moro. Invisto ou pago a dívida do financiamento? Se for investir, qual investimento me sugere e por quê? Posso deixar parado em princípio por dois anos, podendo estender por mais um ano. Agradeço uma manifestação que me ajude a clarear as ideias. Não sou homem de negócios, apenas um trabalhador que conseguiu fazer algumas economias com muito sacrifício e suor.

Paulo Marostica, CFP, responde:

Caro Leitor,

Devemos observar alguns aspectos para um planejamento financeiro bem executado, podendo destacar: objetivo, perfil e momento de vida do investidor.

Baseado em sua pergunta e na afirmativa de que seu patrimônio é fruto de economia e sacrifícios, e considerando o prazo de 2 a 3 anos para o investimento, pode-se assumir que há intenção de preservação do poder de compra de suas economias, sem surpresas.

A prestação habitacional consome 16,6% de sua renda líquida. O financiamento habitacional é conhecido por ter taxas de juros atrativas. Identifique o Custo Efetivo Total (CET) do seu financiamento e compare com as taxas oferecidas pelas opções de investimentos, descontando taxas de administração e impostos. Se o retorno líquido da aplicação for maior que o seu CET, vale a pena manter o recurso aplicado. Lembre-se de fazer este exercício comparativo com frequência.

É importante manter uma reserva de segurança disponível. Sugiro pensar em múltiplos do salário. Assim, com um salário de R$ 5 mil, vale checar o prazo médio de recolocação no mercado para um profissional do seu perfil e setor e multiplicar este prazo médio pelos R$ 5 mil. A reserva pode ser aplicada em ativos com liquidez diária. Há classes de ativos nestas condições que, mesmo com a taxação do IR, desempenham melhor que a poupança.

Para o horizonte pretendido, pode-se buscar o Tesouro Direto. Suas vantagens: baixo risco e alta liquidez. Os custos vão de 0,3% a 2,3% ao semestre. Não há como escapar do 0,3%, que será retido pelas corretoras e repassado à Câmara de Ações e Renda Fixa Privada (antiga CBLC), mas cada corretora cobrará entre 0 e 2%, sendo essencial pesquisar a que melhor te atende. Recomendo a busca por informações no site do Tesouro Direto.

Uma boa opção de Tesouro Direto é o IPCA. Suas vantagens: baixo risco e proteção contra a inflação. O título IPCA entrega de retorno a inflação do período da posse do papel mais uma taxa fixa, pactuada no momento da aquisição. O cuidado com o IPCA é mantê-lo até a data do vencimento, para não perder parte do valor aplicado, o papel pode sofrer oscilação de preços.

Outra opção é a LCA e a LCI, títulos emitidos por bancos e isentos de IR. Neste caso, vale pesquisar que instituição oferece a melhor opção, considerando, além da taxa de retorno, a solidez do banco.

As vantagens de LCA e LCI: protegidas pelo FGC até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira. Estes papéis podem ficar sem liquidez e serem resgatados apenas no dia do vencimento.

Há instituições que oferecem estes papéis diretamente ao público, por plataforma própria, outras, através de corretoras. Os custos dependem do banco e da corretora, mas não ultrapassam os apresentados para os títulos públicos.

Por fim, o planejamento financeiro é uma atividade constante e deve ser revisado a cada alteração relevante no cenário econômico e/ou momento de vida.

Paulo Marostica é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 27 de junho de 2016.

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