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Investir, viajar ou comprar um carro?

Investir, viajar ou comprar um carro? Quais critérios usar se o dinheiro não dá para tudo?

Patricia Palomo CFP®, responde:

Tomar decisões financeiras não é uma tarefa fácil. Envolve cálculos e comparações de custo-benefício que, muitas vezes, são difíceis. Escolher algo implica abdicar de algo também. Seria ótimo não precisar optar entre separar um recurso para investir, viajar para conhecer lugares novos e comprar um carro, mas, se você estiver nessa situação, é importante avaliar alguns critérios, como os que serão apresentados a seguir.

Muitas das decisões financeiras são guiadas por nossas emoções. Euforia, ansiedade, medo e inveja são exemplos de sensações que motivam a decisão de trocar um carro bom por um modelo mais novo e mais caro, ou de se endividar para viajar e tirar fotos naquele local paradisíaco que muitos ostentam na internet. A análise de custo-benefício ajuda a tangibilizar as coisas e a sair da emoção. Ao colocar no papel os prós e contras de cada opção, nossa tomada de decisão tende a ser mais fácil e racional.

No caso da avaliação da compra de um carro, não podem ficar de fora os custos de manutenção, combustível, estacionamento, seguro e depreciação – é preciso considerar que, salvo em situações específicas e pouco comuns, o valor do carro diminui com o tempo. Mas esses não são os únicos determinantes. Deve-se avaliar, também, se o veículo será um “passivo” ou um “ativo”, ou seja, como o bem será utilizado. Se for utilizado para gerar renda ou potencializar a geração de renda, pode ser considerado um ativo. Nesse caso, para a compra valer a pena, o incremental de renda que será gerado deve ser maior do que o custo levantado no início da análise. Já se o veículo for um passivo, ou seja, não for utilizado para gerar renda, ele se torna apenas uma fonte de custos e despesas. A aquisição de um passivo é válida se isso for atender alguma necessidade específica, como se locomover. O cuidado que se precisa ter é que, muitas vezes, essas necessidades vistas como justificativa para a aquisição do bem são emocionais e o veículo pode ser utilizado apenas para tentar supri-las. 

Uma viagem é sempre uma experiência única e muito particular. A análise, aqui, também precisa ser muito específica, mas é possível indicar alguns direcionadores. Avalie se esse é realmente o melhor momento para essa viagem ou se é possível adiá-la sem comprometer o quão especial ela pode ser. Se a viagem cabe no momento, a segunda questão é se ela cabe no orçamento. Por quanto tempo o viajante vai continuar pagando as parcelas dessa viagem? Ele pretende ter outra viagem antes de terminar de pagar a anterior e acumular parcelas? As viagens podem ser dimensionadas para caber dentro do orçamento, de forma que o viajante finalize o pagamento de uma antes de realizar outra. Caso deseje uma viagem mais longa e mais cara, esse critério pode ajudá-lo a considerar um planejamento financeiro capaz de abarcar todos os tipos de viagens, afinal, o benefício das viagens costuma ser intangível e os desejos afloram quando se trata de poder vivenciar novas experiências.

Ao investir, trocamos o consumo presente por um potencial consumo futuro maior. Quanto maior for a projeção de aumento de consumo lá na frente, mais atrativa fica a decisão de adiar esse consumo hoje. A decisão de adiar a compra de um carro novo ou adiar a viagem dos sonhos para o próximo ano, por exemplo, passa pela análise de quanto consumo futuro a mais se pode ter com esse recurso aplicado por mais tempo. As condições atuais de incerteza no mercado financeiro trazem muitas oportunidades, tanto na renda fixa, para os perfis mais conservadores, quanto na renda variável, para os perfis mais arrojados. Decidir por investir ou não depende do quanto se está disposto a abrir mão do imediatismo das experiências que queremos ter hoje em prol de um benefício maior no futuro.

Sejam quais forem as suas prioridades, objetivos e desejos nesse momento, espero que estas reflexões ajudem para que sua decisão seja a mais assertiva possível! 

Patricia Palomo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. Email: [email protected]

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Texto publicado na Revista Época em 30 de novembro de 2022.

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