Consultório Financeiro

Jovem quer saber quanto custa manter um carro

Tenho 24 anos, sou recém-formado e fui efetivado na empresa em que era estagiário. Moro sozinho e a partir de agora não receberei mais ajuda de meus pais e terei que pagar todas as minhas despesas, o que vai consumir praticamente todo o meu salário. Como sempre quis ter um carro, resolvi comprar um financiado, mas não sei se conseguirei manter o carro. Vocês poderiam me orientar? O que vai acontecer se eu não conseguir pagar o financiamento?

Valter Police, CFP®:

Caro leitor, essa é uma situação muito comum nesta fase da vida. É necessária muita atenção e cuidado com as decisões tomadas, pois elas poderão afetar sua saúde financeira por longo tempo. Respondendo de pronto a sua pergunta, caso você não pague as parcelas do financiamento, uma sucessão de eventos irá se iniciar.

O primeiro deles é que a financeira irá lhe cobrar a(s) parcela(s) atrasada(s). A partir daí, você pode vender o carro e “passar” a dívida adiante ou renegociar com a financeira. Caso nenhuma dessas opções aconteça, a financeira irá solicitar a busca e apreensão do seu carro. Ela tem o direito de fazer isso, uma vez que a garantia dada no financiamento é o próprio bem, por meio da alienação fiduciária. Isso significa que você pode usufruir o bem, mas na verdade ele pertence ao seu credor até que o financiamento seja quitado.

Após a retomada do carro pela financeira, ele será leiloado e podem ocorrer três situações: o valor obtido no leilão ser maior que a sua dívida – a dívida é quitada e a diferença será entregue a você; o valor obtido é igual a sua dívida – fica a dívida quitada; o valor obtido é menor do que a sua dívida – você permanece devedor do valor restante e poderá ser acionado judicialmente para a quitação.

Você tem a possibilidade de entrar na justiça pedindo uma ação revisional antes que a financeira solicite a busca e apreensão, embora você tenha que depositar uma parte dos valores das parcelas em juízo. Caso seja essa a sua escolha, consulte um advogado de sua confiança.

Como vimos, nenhuma das opções se mostra fácil ou desejada. Talvez seja o momento para uma reflexão sobre necessidade ou desejo e as possibilidades de realizá-lo. Você menciona que “sempre quis ter um carro”, o que, aliás, é o desejo da maioria das pessoas. No entanto, não diz efetivamente o quanto precisa do veículo para sua utilidade principal: locomoção.

Todos nós temos uma série de necessidades (coisas de que precisamos) e infinitos desejos (coisas que queremos). Como nossos recursos são finitos, a ordem natural é que priorizemos nossas necessidades e, quando possível, realizemos nossos desejos. Talvez seu momento de vida e seu orçamento não sejam os ideais para a aquisição de um veículo, especialmente financiado. Além disso, o custo de um carro vai muito além das parcelas do financiamento.

Para um carro de R$ 30 mil, os custos com combustível, estacionamentos, pedágios, manutenção, limpeza, seguro, IPVA, custo de oportunidade do capital e a depreciação chegam a mais de R$ 1 mil por mês – sem considerar multas nem custos do financiamento.

Assim, se seu orçamento já está apertado para o pagamento das parcelas, imagino que arcar com todos esses custos se torne inviável. Convido-lhe a planejar seu orçamento doméstico e verificar quais os valores que podem ser utilizados para o seu sonho de possuir um carro. E não se esqueça de que no orçamento é fundamental que exista uma reserva (nunca inferior a 10% da receita) para os investimentos, que garantirão a realização de seus sonhos futuros.

Se for possível manter seu veículo, ótimo. Se, caso contrário, seu sonho não couber no seu orçamento atual, planeje-se para que, em um futuro próximo, ele caiba.

Com planejamento e disciplina, nossos sonhos ficam mais perto de se realizarem. E lembre-se: as escolhas são livres, mas quando mal feitas cobram um preço alto para os planos futuros.

Valter Police é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 02 de abril de 2012.

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