Consultório Financeiro

Juros altos: quito o financiamento imobiliário ou do carro?

Marcia Dessen CFP®, responde:

Contratar um financiamento de longo prazo requer muito planejamento e um bom estudo do orçamento doméstico, considerando que o projeto será a prioridade da família por um bom tempo.

O planejamento envolve, também, uma avaliação cuidadosa do tipo de financiamento a contratar para evitar surpresas desagradáveis. Contratos com taxas de juros que flutuam ao longo do tempo requerem especial atenção por se tratar de uma condição sobre a qual não temos nenhum controle.

A taxa básica de juros do Brasil é, atualmente, uma das maiores taxas de juros reais (acima da inflação) do mundo. O cenário é muito favorável para investimentos em renda fixa que acompanham a variação das taxas Selic ou CDI. Entretanto, pode impactar negativamente as modalidades de crédito contratadas com taxa pós-fixada, que acompanham a elevação dos juros ou da inflação, por exemplo.

Quem contratou um financiamento com taxa prefixada, como a maioria dos financiamentos de veículos, num período de juros baixos se encontra em situação favorável, considerando que o contrato aplica juros inferiores aos atuais e o valor da prestação se mantém estável. Aliás, a taxa prefixada é a modalidade de contrato mais prudente, especialmente nos contratos de longo prazo, como os financiamentos imobiliários. Se a prestação cabia no orçamento quando foi contratada, tende a continuar cabendo, mesmo que alguns ajustes nos hábitos de consumo sejam tomados para contornar períodos de escassez.

Contratos atrelados à Selic, poupança + juros ou IPCA + juros são perigosos e representam um risco para o orçamento familiar. Quem tem financiamento de uma dessas modalidades em aberto pode avaliar algumas possibilidades.

Uma delas é renegociar as condições do contrato com a instituição financeira credora, tanto em relação ao custo quanto ao prazo, visando encontrar uma prestação que caiba no orçamento familiar. Não deixe de consultar as condições de outras instituições financeiras. Considere a possibilidade de fazer uma portabilidade, buscando encontrar o valor adequado às possibilidades do seu orçamento familiar.

Quitar, total ou parcialmente, a dívida é outra possibilidade se houver recursos financeiros disponíveis para tomar essa decisão. Caso seja essa a decisão, é importante avaliar cuidadosamente as alternativas.

Se os recursos excedentes já estão disponíveis, investidos em aplicações financeiras, é importante avaliar a rentabilidade potencial e a condição de liquidez, ou seja, a possibilidade de resgatar a qualquer momento sem incorrer em perdas. Pode não ser conveniente perder no resgate antecipado de uma aplicação para quitar antecipadamente o contrato. É recomendável fazer uma simulação, tanto do resgate quanto da quitação do empréstimo, para avaliar com segurança essa alternativa.

Se os recursos forem novos, provenientes de doação, herança ou bônus, por exemplo, e não houver outros compromissos financeiros com encargos mais elevados, ganha força a opção por quitar, total ou parcialmente, o financiamento.

Em ambos os casos, é importante não comprometer os recursos da reserva financeira, que deve ser preservada, sim ou sim. Zerar a reserva financeira para quitar um financiamento caro pode resultar em um péssimo negócio se uma situação desfavorável ocorrer e provocar desequilíbrio nas finanças, levando ao uso do crédito rotativo do cartão de crédito ou cheque especial, por exemplo, muito mais caro do que o financiamento que foi quitado.

O desafio é adequar o financiamento ao orçamento familiar e manter a liquidez, a bendita reserva financeira!

Marcia Belluzo Dessen é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 05 de dezembro de 2022.

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