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Volatilidade na renda fixa

O valor dos títulos públicos de longo prazo tem oscilado bastante, incomodando investidores que não esperavam observar flutuação negativa no preço dos papéis prefixados que compraram.

Em 1º/9, o Tesouro Prefixado, vencimento 2025, acumulava rentabilidade negativa de 2,72% em 30 dias, e o Tesouro IPCA+ 2035, de -5,53%. Em 12 meses, acumulavam valorização positiva de 11,7% e 4,2%, respectivamente.

O desconforto dos investidores decorre, talvez, do incorreto entendimento da aplicação que fizeram. Acreditam que compraram uma taxa prefixada de juros que será paga pelo prazo que permanecerem com o título. Não é bem assim. Compraram um título com vencimento e valor de resgate prefixados.

Quem comprou Tesouro Prefixado 2026 em 1º/9, por exemplo, e pagou R$ 716 por ele não comprou juros de 6,46% ao ano; comprou um título que resgata R$ 1.000 em 1º/1/2026. Quem ficar com o título até o vencimento ganhará juros de 6,46% ao ano. Quem vender antes do vencimento pode ganhar mais (se a taxa cair) ou menos (se a taxa subir).

A taxa de 6,46% foi usada para descontar o valor de resgate (R$ 1.000), calcular o valor de venda (R$ 716) e foi descartada. Ao mesmo título será atribuído um novo preço a cada dia, com base na taxa de juros vigente para papéis com o mesmo vencimento.

Não estamos falando da Selic, taxa que precifica operações de um único dia, mas da taxa de juros de longo prazo, que envolve outros fatores de risco.

O preço do título não é apurado mediante capitalização da taxa do dia da compra pelo prazo decorrido, mas descontando o valor de resgate pela taxa vigente, pelo prazo a decorrer até o vencimento.

Para entender como funciona a taxa de desconto, vejamos um exemplo simples, o de um comerciante que vende a prazo e tem recebíveis que vencem em 90 dias. Como precisa de caixa, pede ao banco uma operação de desconto para antecipar o recebimento dos créditos.

Diariamente, o Tesouro Direto adota procedimento semelhante para determinar o preço de cada título, que será vendido ou recomprado antecipadamente.

Como se trata de taxa de desconto, quanto maior a taxa, menor o preço. A relação entre taxa e preço é inversamente proporcional. Quanto maior o desconto, menor será o preço do produto, tal qual ocorre quando pedimos desconto para pagar à vista uma mercadoria.

O conceito para apurar o valor presente dos títulos negociados no mercado financeiro é idêntico. A diferença é que se trata de recebíveis de longo prazo, de 5, 10, 20 anos. E o impacto da taxa sobre o valor do título é relevante.

Uma oscilação pequena na taxa de juros pode provocar grande impacto no preço em razão do prazo longo dos títulos. Quando a taxa de juros de longo prazo cai, os títulos se valorizam, e os investidores que venderem seus papéis nesse momento ganharão mais do que a taxa contratada. O inverso é verdade.

Os investidores resilientes que esperam a data de vencimento não serão afetados pela flutuação de preços e receberão exatamente o valor de resgate contratado no dia da aquisição do título.

O investidor não pode evitar o risco de flutuação dos preços entre a data de compra e o vencimento. Por essa razão, não deve investir recursos que precisam ser resgatados a qualquer momento para cobrir despesas repentinas.

A liquidez diária, embora disponível, está sujeita ao risco de mercado, contra ou a favor do investidor.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 14/09/2020

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