Consultório Financeiro

Meus investimentos não estão rendendo nada. O que fazer?

“Tenho R$ 180 mil investidos. Olhando o extrato dos meus investimentos, percebi que não estão rendendo nada. O que fazer?”

Augusto Santiago Gratão, CFP®, responde:

Essa percepção não é somente sua. A maioria dos que possuem recursos em renda fixa estão sentindo os efeitos da taxa Selic mais baixa da história.

Seria interessante saber o que você quer dizer com “não render nada”, para oferecer uma resposta mais completa. Uma análise válida é a comparação do rendimento desse investimento com a inflação. Muitos se acostumaram com retornos de 1% a.m. sem risco, algo que não veremos novamente tão cedo.

Os primeiros passos para a tomada dessa decisão são: definir o tamanho para sua reserva de emergência e conhecer melhor seu perfil de investidor, assim como seus objetivos.

A reserva de emergência é um assunto que se tornou polêmico em tempos de juros baixos. Como regra de bolso, o tamanho dessa reserva deve ser de seis meses de despesas, podendo ser maior se houver grande variação das receitas ao longo dos meses ou se houver muitos dependentes.

Essa reserva pode representar um percentual relevante do patrimônio disponível das pessoas e ver esse valor “não rendendo nada” incomoda. Esse incômodo pode resultar em uma ação perigosa: o resgate da renda fixa para alcançar melhores retornos.

É fundamental entender que o objetivo de sua reserva de emergência é a proteção e não rentabilidade. Então, se pelo seu padrão de vida a sua reserva de emergência é de R$ 180 mil, o melhor a fazer é manter estes recursos em renda fixa, pois poderá precisar do dinheiro e ele não estar disponível. Vamos lembrar que essa reserva evita a utilização de alternativas de crédito de curto prazo, com juros elevados.

Outro fator que precisa ser entendido antes de qualquer recomendação é o seu perfil de investidor. 2019 foi muito bom para a renda variável e isso pode iludir o novo investidor. Muitos dos novos investidores que se dizem agressivos, são agressivos nos ganhos e conservadores nas perdas. É importante que essa autoanálise seja feita e que você seja sincero consigo a respeito de seu perfil enquanto investidor. Qual o objetivo e quando você pretende utilizar esse recurso? Como lidaria com uma queda inesperada do mercado? Essas são perguntas bastante relevantes para entender dois fatores: qual a sua capacidade de tomar riscos (o quanto você PODE assumir riscos) e qual a sua disposição para tomar riscos (o quanto você QUER assumir riscos).

Eventualmente você vai querer assumir mais risco do que pode ou o contrário, você poderá assumir mais riscos do que quer. Então o seu perfil enquanto investidor será o perfil mais conservador entre sua capacidade e disposição para tomar riscos.

O objetivo para utilização do recurso será considerado na sua capacidade de assumir riscos. Se o recurso será utilizado em um horizonte curto de tempo (até 1 ano) sua capacidade de assumir riscos será menor. Consequentemente sua carteira será mais conservadora.

Com essas informações é possível estruturar uma carteira diversificada. Um bom profissional poderá auxiliar nessa elaboração, ajudando a identificar suas necessidades, conhecer o seu perfil e propor soluções que podem trazer retornos maiores. Bons investimentos!

Augusto Santiago Gratão é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail[email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 16 de março de 2020

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