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Minha esposa quer comprar outro carro para a família. Vale a pena ter dois?

Especialista explica que, financeiramente, a decisão não vale a pena; entenda por que e o que levar em consideração

Diego Flavio dos Santos CFP®, responde:

O Planejamento Financeiro traz clareza, fundamentos e maior segurança nas tomadas de decisão. Seja em relação aos investimentos financeiros, seja na aquisição de um novo carro, de uma nova casa ou de um pacote para uma viagem de férias, e até mesmo nas escolhas dos produtos no supermercado. Em todas as situações, é necessário avaliar riscos, condições e impactos de curto, médio e longo prazo, além da real necessidade de cada aquisição.

No momento da escolha, há algumas questões racionais, técnicas e principalmente emocionais que levam a reflexões e questionamentos. Por exemplo, avaliar se aquilo é realmente necessário, ou se é apenas uma vontade ou um impulso. Entender essa diferença é de suma importância para tomar a melhor decisão.

Atualmente, há quem defenda a tese de que não vale a pena ter um carro e que o ideal seria utilizar outras alternativas de transporte, como veículos de aluguel. Os veículos não podem ser considerados como um investimento, pois, mesmo que um veículo seja utilizado profissionalmente para a geração de renda, ele possui depreciação ao longo do tempo com rápida perda de valor. Além disso, é um bem que gera muitos custos e despesas recorrentes, como manutenção, impostos, seguros, combustíveis etc.

A recente valorização dos veículos observada nos últimos dois anos não é uma regra que se perpetuará. Ela se deu devido à pontual falta de insumos e componentes para a fabricação dos carros, impactando a cadeia produtiva com um menor número de carros novos ofertados no mercado, o que, com a demanda de mercado, fez o preço subir.

Suponha um carro popular que custa em torno de R$ 70.000,00. Ele possui um custo médio anual entre IPVA, seguro, manutenção e combustíveis em torno de R$ 19.200,00 se estimamos R$ 1.000,00 por mês em gastos com combustíveis, R$ 200,00 por mês com seguro, R$ 1.000,00 a cada semestre com manutenção/revisão, mais R$ 2.800,00 em IPVA considerando o estado de São Paulo. Os valores estimados podem variar de acordo com a quantidade de quilômetros rodados no dia a dia de uso, assim como com a necessidade de manutenções inesperadas e custos com a seguradora dependendo do perfil do condutor. Ou seja, os custos giram em torno de 27% do valor inicial do carro. Nesse ritmo, é possível concluir que, em pouco mais de três anos, será gasto em despesas o mesmo valor desembolsado para a compra do carro em si. E, daí em diante, essa matemática não é amigável, pois o valor do carro diminui ano a ano e seus custos e despesas se mantêm os mesmos ou aumentam com o passar o tempo.

Nos casos de compra do veículo via financiamento, é ideal considerar como o valor de aquisição do carro o valor efetivamente desembolsado para pagá-lo, ou seja, o custo do carro mais os juros. E, claro, nesses casos a desvalorização em relação ao valor pago na compra será ainda maior dado que a taxa de juros do financiamento aumenta o valor final do carro adquirido. Financiamento não é o tema desse texto, porém é um ponto de muita atenção no Planejamento Financeiro.

Em contrapartida, considerando o cenário de juros no Brasil para os próximos 12 meses com a taxa básica de juros do país em 13,75% a.a. e um CDI estimado de 13,65%, investindo o valor de R$ 70.000,00 em um CDB DI tradicional a 100% do CDI, projeta-se um rendimento bruto em torno de R$ 9.555,00 e líquido estimado de R$ 7.882,87 descontando dos rendimentos a alíquota de IR de 17,5% com base na tabela regressiva de Imposto de Renda ao prazo da aplicação a partir de um ano mais um dia. Dessa forma, é possível deixar de gastar R$ 19.200,00 no ano com custos e despesas para receber R$ 7.882,87 de rendimentos.

Financeiramente, não vale a pena ter dois carros, pois todos os custos e despesas mencionados serão dobrados. Mas, se por outras razões, diferentes das financeiras, você optar por esse caminho, o primeiro ponto a considerar é a capacidade financeira de absorver as despesas recorrentes em seu orçamento. Caso tenha caixa disponível e um fluxo financeiro que consiga absorvê-las, será melhor. Mas tenha a consciência de que essa aquisição representa um aumento de despesa. O mais importante é ter bom senso e colocar na balança os prós e os contras para o casal e para a família, equilibrando o financeiro e a qualidade de vida. Como sugestão, recomendo a procura de um Planejador Financeiro para ajudar no planejamento orçamentário da família. 

Diego Flavio dos Santos é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

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Texto publicado na Revista Época em 07 de fevereiro de 2023.

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