Consultório Financeiro

O mais fácil nem sempre é o melhor

Vendi um automóvel e gostaria de uma orientação sobre a melhor aplicação financeira para o resultado da venda, no curto e médio prazo.


Carlos Augusto Santos (Caco), CFP®:

Prezado leitor, o mais fácil seria indicar-lhe um CDB, um fundo de investimentos ou poupança. O mais fácil, contudo, não é necessariamente o melhor. Do ponto de vista de um planejador financeiro, seria provavelmente irresponsável. 

Isto porque faltam elementos para uma orientação completa. Convido você a aproveitar este momento para refletir sobre seu planejamento de vida e, nele, o financeiro. O investimento dos recursos da venda deste automóvel pode ser um ótimo começo para a realização de seus sonhos. 

Quando pensamos em planejamento financeiro, levamos em conta uma série de fatores: quais são seus objetivos de vida, quais sonhos você quer realizar? Quanto dinheiro você precisa para atingir cada um deles? Como pretende obter estes recursos? Em quanto tempo você gostaria de realizá-los (curto, médio ou longo prazo)? Você já tem outros investimentos? Qual objetivo de cada um já existente? Qual seu apetite de risco para cada prazo, para atingir cada meta? Ou seja, quanto você está disposto a perder para conseguir uma rentabilidade extra? Qual sua capacidade de poupança, ou seja, como é sua renda versus despesas mensais? Como você protege suas finanças de eventos imprevistos (por exemplo, na sua saúde, com seu carro, na sua casa)? 

Este é exatamente o tipo de pergunta que fazemos para começar qualquer planejamento financeiro. É realmente um momento para pensar o que queremos da vida, como queremos que o dinheiro trabalhe para a gente, ao invés de sempre termos que trabalhar para ganhá-lo e para viver. 

O dinheiro deve nos servir, nos ajudar a realizar aquilo que queremos. Podem ser metas como viagens, comprar uma casa, ajudar um parente, ter uma reserva para emergências (é sempre recomendável ter esta reserva!), para atingir a independência financeira e não ter que trabalhar para sobreviver. Quem as decide é você, quem tem que correr atrás é você, mas é você quem colherá os benefícios por todo esforço que fizer. 

Quando tiver todos os objetivos delineados em termos de valores e prazos, é hora de priorizá-los e de, aí sim, buscar investimentos condizentes. Planos de curto prazo em geral se coadunam melhor com alternativas de renda fixa; estratégias envolvendo renda variável normalmente podem ser melhor utilizadas para atingir bons resultados para o médio e longo prazos. E tudo deve ser desenhado e executado pensando em como cada pecinha do seu quebra-cabeça se encaixa no todo. 

Depois de todas essas reflexões de vida, e dos impactos financeiros de suas escolhas hoje e para você poder fazer escolhas amanhã, resta fazer as contas. Isso feito, execute os passos que decidir tomar (pensar e não fazer não adianta…). E continue monitorando sempre, para realinhar estratégias e alternativas, sempre de olho nos seus objetivos e metas. Se precisar de ajuda em qualquer dos passos, procure ajuda profissional. 

Desculpe-me se não dei uma resposta simples para uma pergunta aparentemente simples, mas acredito firmemente que vale a pena usar o momento para pensar de forma mais ampla. Dá trabalho, mas dá resultados. Sem esse trabalho, contudo, tenho certeza de que é mais difícil atingir o que se quer. Os frutos da disciplina e do planejamento serão recompensadores!


Carlos Augusto Santos (Caco) é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 07 de julho de 2014.

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