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O que fazer com o 13° salário?

Thiago Lauria, CFP®, responde:

É comum colocarmos alguns rótulos mentais nos recursos financeiros que gerenciamos. O 13º, apesar de ter a sua recorrência anual como um direito definido, é rotulado pela maioria das pessoas como um “dinheiro extra”. E, por ter sido etiquetado como algo extraordinário, é gasto da mesma maneira, geralmente sendo destinado para presentes, festas de final de ano ou promoções que costumam acontecer justamente nesse período. 

Mas será mesmo que essa é a melhor forma de utilizar esse recurso tão precioso? 

O ano de 2020 está sendo bastante atípico e nos trouxe muitos aprendizados. Em relação às finanças, o maior deles foi que uma boa reserva de proteção familiar (RPF), aquele montante a que você recorre em situações como necessidades de saúde ou interrupção da renda, é um pilar fundamental para sua segurança e saúde mental. Muitas famílias perceberam que o número de 6 a 12 meses-padrão pode não trazer realmente tranquilidade. Então, aproveite o seu 13º para construir ou para reforçar a sua reserva de proteção. Quanto mais seguro você estiver, mais preparado estará para alçar voos maiores. 

Outra boa utilidade para o recurso extra de final de ano pode se relacionar a suas dívidas, mas não necessariamente com sua quitação antecipada. A reversão de uma condição de endividamento se assemelha a uma dieta de emagrecimento, na qual um dos fatores principais é a aderência ao processo. Geralmente, quando se tem uma situação de endividamento, acabamos passando por um processo de restrição financeira e bem-estar que pode fazer com que não consigamos manter aderência e, em algum momento, acabamos saindo da linha em relação ao que estava planejado e aumentando o endividamento. Então, se as suas dívidas estão com taxas razoáveis, sendo pagas em dia e cabem no seu orçamento, aproveite uma parte do 13º para uma pequena recompensa; a outra você pode utilizar para aumentar a sua reserva financeira, evitando cair em novas dívidas. Se esse não for o seu caso, vale a pena avaliar uma quitação antecipada e/ou uma renegociação com as instituições financeiras de forma que as parcelas caibam no seu orçamento mensal. 

Existe também um (ainda) pequeno número de pessoas que consegue aproveitar ao máximo esse recurso no final do ano. São pessoas e famílias que possuem um planejamento financeiro pessoal/familiar. O planejamento funciona como um mapa da sua vida: onde você está e para onde você deseja ir. Nessa rota, um dos recursos de que você precisará é justamente o dinheiro. Sabe aqueles jogos em que você descobre alguns tesouros extras no meio do caminho? Pois é, funciona da mesma forma. Uma vez que você tem esse mapa, conseguirá alocar todos esses recursos extras de maneira muito mais apropriada. Poderá escolher, por exemplo: adiantar a troca do carro, antecipar uma viagem, colocar um pouco mais de dinheiro para sua aposentadoria ou até mesmo gastar sabendo que mesmo assim tudo estará dentro do que você se propõe. 

Então, fica o convite para que, em paralelo ao seu 13º salário, você comece a construir o seu planejamento financeiro juntamente com a sua família. Dessa forma, nos próximos anos esse recurso será utilizado de maneira muito mais produtiva na sua vida. 

Thiago Lauria é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

Texto publicado no site Época Negócios em 17 de novembro de 2020.

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