Consultório Financeiro

O uso de aplicativos no controle das finanças pessoais

Tenho visto alguns aplicativos e softwares de gestão de finanças pessoais. Como a tecnologia pode ajudar a me controlar financeiramente?

Valter Police, CFP, responde:

Caro leitor,

Esse é um tema que está cada vez mais sendo difundido e essa é uma ótima oportunidade para colocarmos alguns pontos a respeito de suas possibilidades e também limitações. O ponto mais positivo de seu questionamento é a demonstração de sua vontade em construir e manter um controle sobre suas finanças. Vamos partir daí: esse é um ponto sobre o qual a tecnologia não consegue atuar – suas próprias motivações.

No entanto, se você as tiver (suas motivações), a tecnologia poderá dar aquele “empurrão” no seu dia a dia, auxiliando em sua disciplina e reduzindo possíveis desculpas que nós inventamos. Por exemplo: a elaboração e o controle de seu orçamento são a base sobre a qual será definido se seus recursos irão crescer, com sobras que serão investidas, ou se irão minguar, sem sobras e muitas vezes com faltas, cobertas com o uso de créditos.

A maioria de nós já sabe disso, mas na hora de colocar a mão na massa surge todo tipo de dificuldade: não tenho tempo, isso é chato, não entendo de matemática, tenho alergia ao Excel e por aí vai.

Assim, aquela nossa motivação inicial vai se dissipando e, quando nos damos conta, ela sumiu e com ela a possibilidade de realização de nossos planos.

Aí é que entra a tecnologia: hoje existem diversos softwares e aplicativos que facilitam de forma importante o controle orçamentário. Eles praticamente acabam com quaisquer desculpas que possamos usar. São rápidos, intuitivos para usar e economizam muito trabalho – uma mão na roda!

Isso também é verdade para a gestão de investimentos. Em qual produto investir? Essa decisão normalmente engloba escolhas complexas, que tendem a nos afastar e dificultam a ação. Para tratar desse problema, existem hoje os “robo-advisors”, empresas de tecnologia que automatizam essas decisões por meio de algoritmos, após o preenchimento de um questionário que indicará seu perfil e objetivos. Assim, você não precisa mais decidir sobre as centenas de opções – o robô faz isso por você e normalmente com muito mais qualidade.

Outra grande vantagem da tecnologia é que ela está conosco o dia todo, incluindo aquele momento em que precisamos tomar alguma decisão. Muitas vezes, quando a tentação aparece, como aquela vitrine em oferta, não resistimos e o nosso planejamento pode sofrer com isso. No entanto, a tecnologia pode nos avisar na mesma hora se temos verba para isso e, se optarmos por fazer a compra, quais as consequências ou mesmo nos incentivar a guardar aquele dinheiro ao invés de comprar, investindo imediatamente. Tudo isso em tempo real.

Essa é a essência: a tecnologia deverá facilitar cada vez mais a nossa vida financeira, nos tirando as tarefas chatas, maçantes e complexas.

Além disso, estará ao nosso lado, nos dando pequenos empurrões na direção que sabemos ser a correta, o que facilita muito a nossa disciplina em mantermos os planos que elaboramos.

No entanto, o que a tecnologia não faz – e duvido que um dia faça – é nos tirar a responsabilidade pelas escolhas, que continuarão nossas, e caberá a nós mesmos decidirmos em quais caminhos queremos seguir, embora possamos – e algumas vezes devamos – consultar profissionais especializados que nos auxiliem a tomar as decisões. Mas, uma vez tomadas as decisões, a tecnologia pode ajudar de forma importante a trilhar o caminho escolhido. Outra reflexão: a tecnologia pode nos ajudar a ter ciência da situação, mas, para ter consciência, você precisará meditar sobre o assunto.

Se você gosta de tecnologia, experimente algumas opções para controle do orçamento, investimentos e outros assuntos relacionados. Tenho certeza que poderão te ajudar. Isso, claro, se você tomar as decisões corretas.

Valter Police é planejador financeiro pessoal e possui certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros E-mail: [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 14 de novembro de 2016.

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