Seu Planejamento Financeiro

Como faço para me proteger de fraudes financeiras?

Ouvi dizer que as fraudes financeiras aumentaram com o novo coronavírus. Como faço para me proteger?

Jaques Cohen, CFP®, responde:

Caro leitor,

Obrigado pela pergunta. Ela é de utilidade pública, já que realmente as fraudes financeiras têm se tornado um risco cada vez mais relevante no dia a dia dos brasileiros.

Fraudes têm o potencial de trazer prejuízos altos, mas muitas vezes a possibilidade de ser vítima de uma é menosprezada.

Investidores que se preocupam com casas decimais de rentabilidade em seus investimentos, em certos casos, estranhamente não dão a devida importância ao assunto. Consumidores experientes no mundo virtual também se deixam levar.

A bem da verdade, muita gente toma contato com o tema, mas no fundo considera que é preciso ser ingênuo demais para ser pego, o que talvez seja um dos maiores enganos. Até quem trabalha com o tema chega a ser vítima!

Esse risco foi agravado com a chegada do novo coronavírus e o consequente isolamento social, que levaram muitas movimentações financeiras para o mundo virtual.

Assim como aconteceu com as atividades legais, aquilo que é ilegal – como o roubo, o furto, o golpe – também se adaptou, reforçando sua atividade on-line, e tende a manter o fluxo virtual elevado mesmo no mundo pós-pandemia. Afinal, por qual motivo os novos golpistas – que se juntaram aos que já atuavam on-line – abandonariam sua nova fonte de receitas?

Mas, além do personagem do golpista, a história de um golpe conta com outro: o da vítima – da qual normalmente se busca obter algo, como um acesso digital ou uma transação.

Para conseguir o que quer, o golpista se aproveita das nossas vulnerabilidades. E se elas já são muitas em situações mais rotineiras, imagine em meio a uma crise econômica e sanitária!

O medo pela saúde e pelo bolso, por nós e pelos outros; a solidão da vida em isolamento; a confusão com tantas fontes de informação; a incerteza… Todos são sentimentos passíveis de ser explorados. Até a compaixão pode ser explorada com golpes disfarçados de pedidos de doação.

No geral, as fraudes costumam ser parecidas na sua lógica, mas ganham sempre um novo contexto. Assim, com a chegada do novo coronavírus, hábitos de isolamento, máscaras, hospitais e afins viram possíveis iscas nas mãos do golpista.

Alguns exemplos: envio de motoboys se passando por bancários; falsos aplicativos para resgate de auxílio emergencial ou para a obtenção de dados sobre a Covid-19; sites que vendem máscaras ou afins e depois desaparecem; telefonemas solicitando pagamentos hospitalares para parentes; falsos investimentos que supostamente se beneficiam do novo cenário. A lista é grande e deve ir se atualizando à medida que o cenário se altera.

Para evitar cair em uma dessas armadilhas, existem alguns cuidados básicos. Evite compartilhar dados se você não tem certeza absoluta de estar em um site ou aplicativo oficial. O mesmo vale para telefonemas e mensagens via aplicativo.

Aliás, muitas contas de aplicativo já foram clonadas para pedir dinheiro para familiares e amigos. Nesses casos, até o jeito de conversar da vítima pode ser imitado nas mensagens. Nunca transfira dinheiro para mãe, pai, filho, esposo, colega de trabalho ou amigo sem antes falar de fato com eles.

Bancos também não entram em contato para pedir nenhum tipo de transferência; nem alegam bloqueio de conta por falta de atualização cadastral, tampouco solicitam número de token ou algo parecido.

Da mesma forma, bancos não enviam pessoas para a retirada de cartões na sua casa. É fraude na certa, mesmo que tentem tranquilizar você ao pedir que esses cartões sejam cortados ao meio. O golpista precisa apenas do chip e faz esse tipo de coisa para passar confiança.

Outro ponto importante são os links em mensagens e e-mails. Eles podem levar você para sites falsos com variações de uma letra ou outra no nome. É sempre melhor digitar letra por letra endereços de site nos quais você vai fazer alguma transação importante.

Aliás, se for fazer investimentos, nunca transfira dinheiro para uma conta que não esteja em seu nome nem acredite em promessas milagrosas. Desconfie também de oportunidades que vão acabar amanhã e precisam de uma resposta sua no calor do momento.

Todos esses cuidados tocam vulnerabilidades que, como comentamos, são bem conhecidas dos golpistas… O nosso apego ao menor laço de confiança criado, a busca por soluções rápidas para as nossas angústias, decisões por impulso e até a confiança exagerada daqueles que se consideram menos vulneráveis.

Se você já chegou a cair em uma fraude sabe bem o que é isso. Além do prejuízo financeiro, muitos têm de lidar com a raiva, o arrependimento, a recriminação, a sensação de desamparo, a vergonha, o stress e a ansiedade.

Às vezes, essas sensações fazem com que a gente queira se livrar do problema da maneira mais rápida possível, jogando para debaixo do tapete e se esquecendo dele.

Mas é importante saber que há caminhos. Além do contato com a instituição financeira envolvida no golpe e com serviços de proteção ao consumidor, como Procon e Idec, é possível procurar os reguladores de mercado, como CVM e Banco Central, de acordo com o tipo de transação financeira envolvida, ou acionar o Ministério Público, alegando crime contra a economia popular.

Fazer isso não impede você de seguir em frente. Ninguém precisa sentir vergonha de ter caído em um golpe. O importante é aprender com a experiência e estar alerta.

Jaques Cohen é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 25 de agosto de 2020.

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