Seu Planejamento Financeiro

Perdi dinheiro investindo em criptomoedas. O que fazer?

Magno Camelo, CFP®, responde:

Antes de responder a essas questões, é importante voltar alguns passos e conceituar o que são critptomoedas.

De forma sucinta, são moedas totalmente digitais descentralizadas, ou seja, não são criadas nem controladas por um órgão estatal de determinado país. As criptomoedas se utilizam de tecnologias de blockchain e criptografia para trazer validade e segurança às transações e ao processo de criação de moedas.

O mercado de criptomoedas já não é novidade para uma boa parcela da população brasileira e vem ganhando novos adeptos a cada dia. Por um lado, as criptomoedas atraem diversos investidores que conhecem bem as suas características, tais como descentralização, imutabilidade, segurança e escassez, o que na visão desses investidores agrega valor ao ativo e o torna uma forma de diversificação do portfólio e uma alternativa de reserva de valor. Por outro, muitos investidores são atraídos unicamente pela possibilidade de conquistar altos retornos em um curto período de tempo. E o fato de esse segundo grupo investir sem compreender bem as características do ativo acaba gerando dúvidas e um certo grau de desespero quando os preços sofrem fortes quedas.

O mercado cripto é ainda muito volátil, principalmente por ser muito recente e não ter passado pelo teste do tempo pelo qual já passaram outros ativos, como o ouro e o dólar.

Assim como é importante compreender as perspectivas para um ativo antes de investir nele, é importante também que o investidor saiba quais são os motivos que impactam seu preço antes de tomar uma decisão.

Tomando como exemplo o Bitcoin, principal criptomoeda disponível, ao longo dos últimos anos vimos diversas notícias sobre a possibilidade de intervenção estatal por meio de regulações, países limitando a mineração, ameaças de proibição, entre outros fatores que acarretaram quedas significativas nos preços. Não é possível saber se no futuro alguma dessas ameaças irá se concretizar, mas até o momento o ambiente do Bitcoin conseguiu se adaptar e se recuperar dessas grandes quedas.

Há, ainda, momentos em que as quedas são apenas correções, sem qualquer relação com o noticiário, o que é sadio para o mercado e abre oportunidades para o investidor que busca entrar ou aumentar a sua exposição.

Como em muitos casos é difícil identificar o que são ruídos e quais são as situações que de fato podem afetar o preço das criptomoedas em longo prazo, é recomendável que o investidor pesquise na fonte, utilize ferramentas de análise disponíveis no mercado ou busque ajuda profissional.

Em conjunto com o monitoramento do cenário, o investidor precisa se questionar se esse tipo de ativo está alinhado ao seu perfil de risco e se está disposto a lidar com sua forte volatilidade. Diversificação e gestão de risco são fundamentais para qualquer investidor, mas tornam-se ainda mais essenciais em um mercado com alta volatilidade, em que em poucos dias é possível ter ganhos ou perdas expressivas.

Ainda que o investidor tenha perfil agressivo, comprometer uma parcela significativa do seu patrimônio em criptomoedas poderá colocar em risco o seu bem-estar e os seus planos futuros. Não há uma fórmula certa de qual o limite de alocação em criptomoedas, pois isso depende de diversos fatores, mas há quem recomende algo entre 2% e 10%, dependendo do perfil de risco. O investidor precisa se sentir confortável com a sua carteira de investimentos e ter a tranquilidade de que, no pior cenário, as perdas sofridas não o tirarão do “jogo”.

Portanto, há pelo menos três situações em que o investidor deve analisar a possibilidade de vender pelo menos parcialmente as suas criptomoedas: quando o ativo perdeu os seus fundamentos, quando não há disposição para lidar com a volatilidade do mercado ou quando a alocação superou o seu limite máximo estabelecido.

Poderia haver, ainda, uma quarta situação, de necessidade de liquidez imediata, porém essa é uma situação extrema que deveria ocorrer somente caso a reserva de emergência e outros recursos tenham sido utilizados.

Qualquer decisão sobre a venda deve ser tomada com cautela e equilíbrio a fim de evitar movimentos de manada, ou seja, de venda só porque outros estão vendendo, e, ao mesmo tempo, não se prender a uma estratégia ruim por aversão à perda.

Por fim, se o investidor está confiante em sua tese, possui uma carteira diversificada e tem visão de longo prazo, as oscilações dos preços a curto prazo não deveriam afetar a sua estratégia.

Magno Camelo é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 18 de janeiro de 2022.

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