Consultório Financeiro

Posso manter meu padrão de vida na aposentadoria?

Tenho 65 anos e acabei de me aposentar. Tenho um patrimônio de aproximadamente R$ 1,6 milhão. Além do que recebo do INSS, precisarei de R$ 3.500 por mês para pagar as minhas despesas mensais. Preciso reduzir as minhas despesas ou posso manter o meu padrão de vida sem ter que voltar a trabalhar?

Maria Angela Nunes, CFP®, responde:

Prezado leitor, antes de responder a sua questão, gostaria de parabenizá-lo por chegar a essa tão importante fase da vida com um patrimônio constituído para fazer frente as suas necessidades ao longo do que gosto de chamar de “longevidade”.

Vamos à resposta a sua questão.

Como você não apresentou nenhum outro objetivo, como deixar herança, por exemplo, vou considerar que todo patrimônio poderá ser utilizado para você viver a fase madura da vida de uma forma menos preocupada com a sobrevivência financeira e, portanto, mais leve.

Em função do aumento da expectativa de vida da população — que significará um aumento no tempo em que as pessoas deverão utilizar as reservas constituídas — vou tomar a liberdade de considerar na minhas análises que você viverá até 100 anos.

Como você não citou em que tipo de ativos o seu patrimônio está alocado (por exemplo: o quanto está direcionado para imóvel seja para moradia ou para alugar e investimentos financeiros) e o seu perfil como investidor, não farei nenhuma avaliação sobre em que ativos você deveria alocar essas reservas em busca de um determinado nível de rentabilidade.

Por conservadorismo vou utilizar um cenário no qual o seu patrimônio rentabilizaria o suficiente, apenas para pagar o Imposto de Renda (IR) dos investimentos e repor a inflação do período, não sobrando rendimento para fazer frente as suas despesas mensais. Ou seja, a rentabilidade real líquida, após pagamento do IR e a manutenção do seu patrimônio frente a inflação, será zero.

Nesse caso, você não receberia rendimentos maiores do que os necessários para pagar o IR dos investimentos e repor a inflação do período. Portanto, para fazer frente as suas despesas anuais você precisaria fazer resgates que diminuiriam anualmente o seu patrimônio na ordem de R$ 42 mil, tomando-se por base o valor de hoje.

Mas não se assuste caro leitor, pois apesar de você ter, efetivamente, uma redução do seu patrimônio, no seu caso, ele seria suficiente para fazer frente as suas despesas até os seus 100 anos.

A valores atuais, você precisaria ter hoje o montante de reserva de R$ 1,47 milhão para cobrir as suas despesas até os seus 100 anos de idade — ou seja, por 35 anos.

Portanto, a resposta a sua pergunta é: se o seu patrimônio for rentabilizado, no mínimo, para o pagamento do IR e da inflação, ele será suficiente para complementar o benefício que você recebe do INSS e manter o seu padrão de vida.

Um alerta importante a ser feito é que, caso parte do seu patrimônio seja constituído por imóveis, especialmente se for imóvel que serve de moradia e não para renda, e a parte imobilizada for maior do que R$ 130 mil (que é a diferença do patrimônio atual de R$ 1,6 milhão e o patrimônio necessário de R$ 1,47 milhão), em algum momento será necessária a venda dos imóveis para que haja liquidez para pagar as despesas mensais.

Um último e importante ponto a observar é que todas as análises foram feitas considerando que as suas despesas não crescerão por força de novas necessidades.

No entanto, vale lembrar que a longevidade pode trazer aumento em despesas como saúde e assistência pessoal, por exemplo. Portanto, manter um bom acompanhamento orçamentário, com um controle detalhado das receitas e despesas, será sempre útil para o seu equilíbrio financeiro.

Grande abraço e muita prosperidade!

Maria Angela Nunes é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 11 de abril de 2018

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