Consultório Financeiro

Posso perder dinheiro com o título Tesouro Prefixado?

Posso perder dinheiro investindo em Tesouro Prefixado? Eu tinha a impressão de que, por ser “renda fixa” o ganho seria garantido, mas um amigo me disse o contrário.”

Leticia Camargo, CFP®, responde:

Pois é, caro leitor, quando investimos em renda fixa, isso nos faz parecer que o retorno está determinado e que já sabemos quanto vamos receber de juros. Afinal, renda fixa deveria proporcionar um rendimento fixo! A questão é que podemos até perder dinheiro neste tipo de investimento.

Podemos considerar três riscos em renda fixa: 1) risco de crédito, que é a possibilidade de o emissor deixar de pagar o principal e os juros; 2) risco de liquidez, que é o risco de não conseguir transformar rapidamente o título em dinheiro, sem perda de valor significativa; e 3) risco de mercado, que é a incerteza quanto ao comportamento dos preços daquele título até o seu vencimento.

Em se falando de títulos públicos, o risco de crédito é o menor que existe no país, pois o emissor é o próprio governo federal, que garante o seu pagamento. O risco de liquidez também é muito baixo, pois o Tesouro Nacional garante às pessoas físicas a recompra diária dos títulos do Tesouro Direto. Porém, quando consideramos o risco de mercado, pode haver alguma perda, já que as variações dos preços dos títulos prefixados dependem dos juros de mercado.

Vou explicar abaixo como pode se dar o risco de mercado neste título de renda fixa, o Tesouro Prefixado (antiga LTN):

Neste título, os juros são calculados pela diferença entre o seu preço na compra e no vencimento, que é sempre de R$ 1.000.

Então, digamos que eu compre pela manhã um título que vence em um ano, com juros de 10% ao ano e que, para eu receber essa remuneração, pagarei R$ 909 por ele. Porém, se neste mesmo dia, à tarde, os juros subirem para 25% ao ano, ninguém vai comprar esse meu título com juros de 10%, já que poderia comprar um outro com taxa de 25%.

Então, eu provavelmente só encontrarei comprador pelo preço de R$ 800, de forma que quem compre receba os mesmos 25% no período.

Percebe o que aconteceu? Quando os juros eram de 10% ao ano, o meu título valia R$ 909, mas à tarde, quando a taxa subiu para 25% ao ano, ele passou a valer menos. Como o papel sempre custa R$ 1.000,00 no vencimento, o seu valor atual tem que cair para que a diferença entre o preço de compra e o de vencimento (ou seja, os juros) seja maior.

Porém, somente tenho o risco de perder dinheiro se resolvo vender o título no meio do caminho. Se eu mantiver o papel até o vencimento, receberei os juros que foram combinados no momento da compra, ou seja, de 10% ao ano, como no exemplo acima.

Portanto, se eu resolver desfazer-me do título antes de sua data final e se os juros subirem nesse período, poderei ter de vendê-lo mais barato do que o preço que comprei atualizado pelos juros combinados na compra.

Agora, imagine a situação em que os juros caíssem de 1 0% para 5% ao ano: neste caso, o preço do meu título subiria de R$ 909 para R$ 952,38 neste mesmo dia. Desta forma, a rentabilidade seria bem interessante.

Sei que a explicação não é das mais triviais e que a nomenclatura do título não é a mais adequada, pois nos faz pensar que teremos sempre um retorno certo.

Por conta disso, é sempre bom procurar um planejador financeiro para ajudá-lo a escolher os investimentos mais adequados aos seus objetivos, ao seu perfil de risco e ao seu horizonte de investimento!

Leticia Camargo é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected].

As respostas refletem as opiniões da autora, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 10 de abril de 2017

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