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Tive que fechar minha empresa e restaram dívidas com fornecedores, com impostos e com funcionários. Qual deve ser a minha prioridade na hora de saldar essas dívidas?

Chegar à conclusão de que um passo atrás deve ser dado e encerrar uma atividade empresarial é a melhor saída requer coragem e maturidade

Por Antonio Carlos Gomes Junior, CFP® responde:

Caro leitor, imagino que chegar ao momento de ter que decidir encerrar uma empresa não seja agradável. Sonhos e conquistas, misturados com frustrações e preocupações. Mas a racionalidade nesse momento é importante, e decisões devem ser claramente tomadas a fim de minimizar desgastes e problemas futuros.

A legislação prevê quem são os credores e a ordem de recebimento. Seus funcionários deverão ser os primeiros, e todas as verbas que estão vinculadas a eles. Posteriormente, dívidas com garantias reais –por exemplo, hipotecas e alienações fiduciárias. Na sequência, deverão ser quitados os seus compromissos fiscais, impostos federais, estaduais e municipais. E, por último, seus fornecedores e demais credores, cada um recebendo na sua proporção do total.

Muito importante que você tenha uma orientação jurídica para que a identificação da real dívida seja claramente destacada. Portanto, recomenda-se contratar um advogado especialista para validar e orientar tecnicamente esse momento. Talvez sejam necessárias decisões judiciais ou acordos formais entre as partes feitos com base na legislação.

O fundamental é pagar realmente o que você deve e da forma correta. Há a máxima que diz: quem paga errado paga dobrado!

Outra questão: você destacou que precisará de um tempo para resgatar suas aplicações, ter liquidez nos seus investimentos. Sugiro, então, que procure todos os devedores e faça os acordos, destacando prazos e, se possível, a mínima ou nenhuma atualização desses valores durante esse período previamente combinado. Dívidas fiscais podem ser parceladas. Há descontos muito interessantes e, às vezes, um prazo para saldar tudo pode ser importante e interessante para você. Dívidas com funcionários são as mais críticas, mas também é possível negociá-las, antecipando boa parte do valor e pagando o restante ao longo de um período. Quanto aos demais credores – entre eles, seus fornecedores –, também é possível viabilizar um desconto, um parcelamento.

Esse parcelamento e prazo maior pode ser o período necessário para você se restabelecer, encontrar saída para sua situação empresarial/profissional e não colocar sua capacidade de subsistência em risco, pois passar por dificuldades financeiras pode piorar ainda mais o estado pessoal e familiar.

Buscar resguardar uma reserva de emergência para suas despesas pessoais e familiares será fundamental. O ideal seria algo que cubra de 3 a 6 meses das principais despesas, junto com uma avaliação de eventuais gastos que podem ser cortados.

Por último, deve-se avaliar tudo o que aconteceu, identificar as razões que levaram a esse momento e entender onde há aprendizados pessoais, onde ocorreram situações alheias a seu controle e questões que fazem parte de qualquer operação empresarial. Esse laudo estabelecido ajudará em futuros projetos, sejam eles de voo solo, voltando a empreender, ou de carreira profissional em uma empresa. Reconhecer os seus pontos fortes e pontos a aprimorar ajudará muito, pois, caso passe por uma entrevista de emprego, isso será perguntado. Mas caso inicie um novo negócio, seu planejamento empresarial deverá prever situações e soluções para que as mesmas falhas pessoais não se repitam.

Chegar à conclusão de que um passo atrás deve ser dado e encerrar uma atividade empresarial é a melhor saída requer coragem e maturidade. Vergonha deve ser um sentimento inexistente nesse momento, e em nenhum outro. Orgulho deve ser encontrado e vivido, pois quem ousa empreender neste país já é um vitorioso, e muitos empresários de sucesso tiveram etapas de aprendizado como essa em suas histórias de vida.

*Antonio Carlos Gomes Junior é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected].

**As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site Época Negócios ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. ntãPerguntas devem ser encaminhadas para: [email protected].


Texto publicado na Revista Época em 09 de Maio de 2023.

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