Seu Planejamento Financeiro

Qual o melhor papel do Tesouro Direto para investir agora?

Com a Selic em queda, como investir melhor?

Henrique Cintra, CFP®, responde:

Para quem ainda não sabe, o Tesouro Direto é um programa do Governo Federal, em parceria com a Bovespa, para dar acesso à compra de títulos públicos, via internet, ao cidadão brasileiro. Quando adquirimos um título estamos financiando o governo em troca de uma remuneração do nosso dinheiro.

Existem 3 tipos de títulos públicos sendo negociados via Tesouro Direto. Os indexados à inflação, os prefixados e os indexados à taxa Selic.

Os primeiros são conhecidos como Tesouro IPCA+, levam esse nome para facilitar o entendimento de que ao comprar esse título você receberá uma promessa de rentabilidade (parte fixa) + a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a inflação oficial do país. Essa parte fixa (4,77% no exemplo do quadro resumido abaixo, retirados do site do Tesouro Direto em 1.09.2017) significa uma remuneração real, ou seja, acima do custo de vida das famílias.

Esse título é mais indicado para o longo prazo (acima de 5 anos) e para você que busca proteção para as altas da inflação no tempo. Porém, é importante levar em conta que o imposto de renda é pago sobre a taxa nominal, o que significa que ele recai também sobre a inflação. Isso faz com que a proteção contra a inflação oferecida pelo Tesouro IPCA não seja perfeita, pois quanto maior for a taxa nominal e quanto mais perto a inflação estiver dela, menor será a taxa real líquida (após impostos), podendo inclusive ser negativa.”

Nos Tesouros Prefixados, por outro lado, não há garantia de ganho real. Sua rentabilidade já está dada, já é informada no momento da compra, assim, se a inflação aumentar ou estiver alta, seu ganho real, acima da inflação, pode ficar comprometido ou até não existir. Aqui, dizemos que a rentabilidade é nominal.

Figura 1 Preços e taxas dos títulos disponíveis para investir

Figura 1 Preços e taxas dos títulos disponíveis para investir (Foto: Tesouro)

No quadro acima, a rentabilidade prometida é de 8,51% ao ano, vale frisar que esse percentual de rendimento só vale para quem levar o título até o vencimento. O prefixado é mais indicado para quem tem objetivos e prazos bem definidos e para quem acredita que a inflação não vai aumentar ou vai continuar baixa pelo tempo decorrido até o vencimento.

O Tesouro Selic é o título atrelado à taxa de juros de referência da economia, a Selic. Isso quer dizer que, se essa taxa de juros sobe, sua rentabilidade também vai subir, se cair, seus rendimentos cairão junto. É considerado o título público mais conservador e indicado para você que não tem uma destinação certa nem tempo definido para ter o seu dinheiro de volta, ou seja, que quer liquidez a qualquer momento. A rentabilidade informada de 0,01% a.a. no quadro quer dizer que se o investidor levar até o vencimento receberá a média da taxa Selic de todo o tempo que esteve com o título mais 0,01%. Isso mostra que a venda antecipada não representa uma perda relevante de juros para obrigar o cidadão a ter que esperar até o vencimento do papel.

Henrique, e seu eu quiser vender meu título, eu posso? Sim! Em dias úteis, das 9h30 às 18 horas você pode vende-lo pelo preço de resgate informado no site. Após 18h e até às 5h, ou em finais de semana/feriado os preços considerados serão os de abertura do mercado no próximo dia útil. De qualquer forma, o Tesouro Nacional garante a recompra. Mas é bom que se saiba que fora do vencimento do título eles são vendidos pelo preço de mercado o que pode representar uma rentabilidade maior ou menor que a prometida no momento da compra. Isso é o que chamamos de Risco de Mercado ou Marcação a Mercado, quando os preços dos títulos oscilam diariamente, e você poderá perder dinheiro se vender o título a um preço abaixo do preço que você comprou. Por esse motivo, o tesouro prefixado e o IPCA+ são mais indicados para quem pode esperar até o vencimento, garantindo assim a rentabilidade contratada no momento da compra.

Diante do exposto e considerando que a pergunta do leitor demonstra uma preocupação com a queda da Selic, recomendo cuidado ao analisar possíveis investimentos pré-fixados, esperando fixar uma taxa de rendimento maior agora do que o rendimento dos juros pós-fixados futuros. A questão é: até que ponto os as taxas de mercado de títulos prefixados podem já estar embutindo em seu preço a futura queda dos juros? Até quando a Selic continuará caindo? Como não há condições de saber com certeza, o ideal é evitar títulos prefixados de médio ou longo prazo, a menos que a rentabilidade definida na compra lhe seja suficiente para alcançar seu objetivo, e que o risco de ter rendimentos mais baixos que a inflação nestes investimentos não tenha um impacto significativo na sua carteira como um todo.

Há uma outra questão a ser analisada, a rentabilidade real dos investimentos. Essa atual queda da Selic, num primeiro momento pode assustar o investidor por achar que agora vai ser difícil conseguir boa rentabilidade com a mesma segurança. Esquece, porém, que a rentabilidade real dos investimentos na renda fixa está maior agora do que quando a taxa Selic esteve perto dos 14,00%, em 2015, quando tivemos inflação de dois dígitos.

Veja no quadro abaixo, com dados do Portal Brasil e fontes do Banco Central, que apesar da queda da Selic em 2017 a rentabilidade real dos investimentos está acima do que presenciamos em 2015, e abaixo da de 2016, quando a inflação começou a dar sinais de enfraquecimento.

Figura 2 Rentabilidade real dos investimentos à Selic
Figura 2 Rentabilidade real dos investimentos à Selic (Foto: Planejar)

A rentabilidade real é importante pois garante que seu dinheiro será remunerado acima do custo de vida mantendo o poder aquisitivo. Em outras palavras, tendo rentabilidade real você garante que os R$100,00 de hoje comprarão os mesmos produtos daqui a 1 ano.

Para finalizar, caro investidor, não deixe de refletir acerca de qual objetivo financeiro você está buscando alcançar com o investimento que irá fazer. É de curto, médio ou longo prazo? Pode esperar até o vencimento do título? Se não puder, o mais indicado é o Tesouro Selic. Se puder esperar e a trajetória da Selic continuar em queda, o prefixado pode ser uma boa alternativa. Ademais, considere possuir uma reserva de valores para imprevistos ou emergências de, pelo menos, 6 vezes seus custos mensais. Ela é essencial em qualquer cenário financeiro em que você se encontre e pode evitar que você tenha que vender títulos para atendimento de necessidades não programadas em seu planejamento financeiro pessoal.

Henrique Cintra Ribeiro é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 03 de outubro de 2017

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