Seu Planejamento Financeiro

Quando começar a ensinar planejamento financeiro a uma criança?

Carlos Augusto, CFP®, responde:

A educação financeira é um dos aspectos para os quais os pais estão preparando seus filhos para a vida. Não pode ser encarado como uma situação isolada. Não imagino alguém tirar um dia da semana, sentar com seu filho e dizer “hoje vamos falar sobre finanças, orçamento e fluxo de caixa. No fim de semana retomaremos com juros compostos, volatilidade e retorno sobre investimentos”.

Afinal, fazemos isso para ele não falar de boca cheia? Pra escovar os dentes todo dia, ou para dizer “por favor” e “obrigado”? Claro que não. O processo de educação é algo diário, uma coisa que você fala para seu filho fazer sempre, explica por quê é importante, mostra que você faz também e como isso vai ajudar na vida dele. São hábitos que você já incorporou no seu dia-a-dia e ensina o seu filho a fazer também. E faz isso porquê você o ama, quer o seu bem e que ele cresça e tenha sucesso na vida.

Importante lembrar que o maior professor é o exemplo. Então se você é disciplinado, consome com consciência, paga suas contas em dia, poupa para seu futuro, é muito provável que passe esses conceitos e comportamentos para a criança. E se você leu esse parágrafo e teve um frio na barriga porque não faz nada disso, como espera passar boas informações para a frente? Nesse caso está na hora de você mesmo melhorar sua educação financeira. Lembre-se: “coloque primeiro sua máscara de oxigênio, depois cuide dos outros”!

Apesar de a criança observar os comportamentos dos pais (e aprender com eles, os bons e os ruins) desde seu nascimento, é a partir dos 3 ou 4 anos que estará pronta para entender conceitos como esperar para ganhar alguma coisa e fazer um esforço para conquistar algo, por exemplo. E estes são fundamentos essenciais para uma vida financeira equilibrada, certo?

É preciso que ensinemos as crianças desde essa idade princípios como:

– Valorizar as coisas, o que vai muito além do preço delas;

– Celebrar as conquistas, evitando presentear a todo momento e por qualquer razão;

– Saber que existem recursos finitos: se gastar muito de algo hoje, pode faltar dele amanhã, é preciso ter auto-controle;

– Poupadores são recompensados, devedores são “punidos” (use sua criatividade para passar esse conceito com recursos finitos como tempo de televisão, ou com um álbum de figurinhas, por exemplo);

– Que sempre podemos tentar negociar (feiras livres são excelentes e divertidas para isso, quando forem um pouco mais velhas);

– Que a vida é feita com equilíbrio, não só de consumismo nem só de poupança, e

– Que é importante e confortante repartir o que temos muito com quem tem muito pouco.

Já com 6 ou 7 anos pode-se introduzir o manejo do dinheiro, com um cofrinho onde a criança vai juntando moedinhas para realizar algum sonho de consumo. Mesmo que seja algo banal para nós, adultos, uma bola ou uma boneca que a criança conquiste através de sua disciplina – e com nosso encorajamento – é poderosíssimo. Desta forma você estará incutindo nela valores que levará para o resto de sua vida.

A partir dos 8 ou 9 anos insira a mesada, que deve ser encarada única e exclusivamente como um instrumento de educação financeira. Evite relacioná-la com desempenho escolar, tarefas domésticas ou outras obrigações, mas apenas para desenvolver na criança sua habilidade de fazer escolhas, comprar algo hoje versus poupar para algo maior no futuro, e coisas assim. Procure na internet o vídeo do “teste do marshmallow” e entenderá como isso é interessante e importante!

Lembre-se: o maior impulsionador na educação das crianças será sempre o seu exemplo. Uma criança que vê o pai desrespeitando uma lei de trânsito achará que isso é o correto; uma que vê a mãe se abaixando para pegar um papel na rua e colocando-o no lixo igualmente incorporará o ensinamento. Com a educação financeira é a mesma coisa. Pouco adianta você dizer a ela para guardar sua mesada se ela te vê praguejando contra o banco que está cobrando o empréstimo. Mas fará todo o sentido para ela quando você disser que vão conseguir fazer uma viagem bacana ou comprar uma roupa nova porque foram disciplinados e evitaram gastar com bobagens.

Afinal, “o exemplo não é a melhor forma de ensinar, é a única!” (Albert Schweizer, filósofo)

Carlos Augusto Santos (Caco) é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial Planner), concedida pela Associação Brasileira de Profissionais Financeiros – Planejar. Email: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do site ÉpocaNegócios.com ou da Planejar. O site e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

Texto publicado no site Época Negócios em 18 de julho de 2017.

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