Consultório Financeiro

Quando terei uma reserva para deixar meu emprego?

Tenho 46 anos, sou solteiro, moro no interior e sempre fui muito controlado. Fiz um projeto de vida de alcançar a independência financeira antes dos 50 anos e não depender de trabalho. Tenho um emprego razoável e ganho cerca de R$ 10 mil mensais. Meu custo de vida é baixo, cuido bem de minha saúde e não tenho planos médicos. Minha reserva é de R$ 1,460 milhão. Gosto e entendo bastante do mercado (leio muito) e, em busca de maiores retornos, todos os meus recursos estão em fundos multimercados e de ações. Não tenho dependentes. Quero saber se, em dois anos, poderei atingir um valor – calculei em R$ 2 milhões – que me permita deixar o emprego e ter uma vida tranquila.

Fernando Meibak, CFP®:

É extraordinário que você tenha atingido um patamar de recursos nessa idade, que poderá lhe trazer a independência financeira. Pelo que deduzo, talvez você tenha alguma insatisfação com o emprego ou veja o risco de descontinuidade do trabalho.

O fato de cuidar bem de sua saúde pode permitir essas economias de gastos com planos de saúde, mas é um risco extremamente alto que tem que ser muito bem calculado, pois os custos hospitalares em casos de infortúnios são expressivos. De qualquer forma, mais adiante, com a deterioração de seu organismo, será fundamental você contar com boa cobertura médico-hospitalar.

Vamos à pergunta: “Poderei parar de trabalhar em dois anos?” Partindo do total atual, para se alcançar aqueles valores que você calculou, você precisaria atingir uma rentabilidade de 36,99% no período, o equivalente a 17,04% ao ano. É um número muito expressivo!

Você está concentrado em investimentos de elevado risco. Dado que os fundos são agressivos, isto significa que você pode incorrer em perdas de capital. Sua estratégia pode ter dado certo no passado, mas acho que você poderia fazer um grande movimento em seus investimentos.

Dado que quer retornos mais elevados e parece entender e aceitar mais risco, minha recomendação seria para você analisar fazer uma realocação dos recursos, migrando para outro tipo de risco: o de crédito.

Um produto de que gosto muito nesse grupo são os FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios). Há diversos tipos de fundos no mercado. Gosto muito das carteiras de crédito consignado do setor público (INSS ou entes federais), que apresentam baixo risco. Há fundos com outros ativos. Os FIDCs têm boa subordinação de risco e apresentam excelente relação risco/retorno. Os prazos médios desses fundos têm oscilado entre dois a três anos. Recomendo aqueles que têm classificação de risco mínima duplo A, feita por uma agência internacional. Em geral os fundos têm um período de carência (12 meses tem sido comum) e um programa de amortização periódica (mensal, trimestral). Há FIDCs que remuneram o investidor com CDI mais 2% ao ano ou mais.

Outro ativo de renda fixa que gosto muito são as debêntures emitidas por empresas corporativas. Há um razoável mercado secundário desses papéis. É possível fazer investimentos em títulos de dois a três anos de prazo com taxas superiores a 110% do CDI. Você deve escolher bem as empresas, que em geral são de grande porte e têm informações disponíveis no mercado.

Outro tipo de investimento que merece ser avaliado são as Letras Financeiras. São títulos emitidos por instituições financeiras que oferecem boa rentabilidade. Em geral, são emitidas em prazos mais longos, de 2 a 5 anos. Tem havido emissões em patamares de remuneração acima de 110% do CDI. Boas e sólidas instituições financeiras têm emitido esses títulos.

Você não conseguirá atingir os R$ 2 milhões em dois anos, de qualquer forma. Precisará de um prazo mais longo, próximo de três anos. Você deve seriamente avaliar se segue trabalhando.

Fernando Meibak é Planejador Financeiro Pessoal e possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. E-mail: [email protected]

As respostas refletem as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico ou da Planejar. O jornal e a Planejar não se responsabilizam pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. Perguntas devem ser encaminhadas para : [email protected]

Texto publicado no jornal Valor Econômico em 02 de janeiro de 2012.

0