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Quanto eu preciso poupar para ir com minha esposa e dois filhos para a Copa do Mundo de 2026?

Com pouco mais de R$ 800 ao mês, por pessoa, dá para fazer (bem) a viagem para assistir ao Hexa, explica planejador financeiro; confira o passo a passo de como preparar as finanças

Denis Gómez Coelho, CFP® responde:

Toda Copa do Mundo é única. Afinal, há que esperar quatro anos para a chance de voltar a torcer para o Brasil continuar a ampliar sua vantagem como maior seleção de futebol da história. Em 2026, serão 20 anos aguardando para dar o grito de hexacampeão. Será um evento especialíssimo, já que pela primeira vez o torneio será continental, ocorrendo na América do Norte, com jogos no México, Estados Unidos e Canadá.

Por conta da exclusividade do evento, o planejamento financeiro de uma viagem dessas deve ser cuidadoso. E se for essa a Copa em que conquistaremos o hexa, já pensou que história essa família vai ter para contar?

Vamos começar com a lição de casa. É preciso ter as contas domésticas em dia, garantindo que as dívidas e financiamentos de médio e longo prazo sejam compromissos confortáveis para a família, ou seja, que os gastos totais da família caibam nas receitas e que haja uma boa sobra para outros compromissos. Isso feito, é preciso considerar o esforço necessário para essa empreitada familiar.

Com questões ainda por definir pela FIFA, já está certo que a Copa de 2026 terá 48 seleções divididas em quatro grupos. Pela primeira vez, deve haver uma nova fase eliminatória, chamada 16 avos de final. Tudo será como nunca se viu antes. 

Viagem internacional, contas em dólares. Para uma empreitada assim, os pacotes são recomendáveis, pois costumam incluir (quase) todo o necessário para apreciar os jogos. Tomando como base o valor médio de um pacote de 7 dias para a Copa do Mundo do Catar, o custo variava de 5.000 até 15.000 dólares por pessoa, com passagem, hospedagem, traslado aos jogos etc.

Sim, é certo que a Copa do Qatar foi a mais cara da história, com uma estrutura um tanto extravagante numa região pouco habituada a eventos dessa magnitude. Mas é seguro assumir esses valores como ponto de partida por conta: 1) da inflação do dólar, a mais alta dos últimos 40 anos e que está relutando em baixar; e 2) da facilidade logística e cultural da América do Norte, que deve atrair maior público. De fato, a Fifa espera 5 milhões de espectadores, um crescimento de quase 40% em relação aos 3,6 milhões da edição de 2022.

Portanto, vamos tomar um valor intermediário: 10.000 dólares por pessoa. Para a família, será um custo total de 40.000 dólares, o que, na cotação de finais de janeiro de 2023 (algo próximo dos R$ 5,07), seria em torno de R$ 205.000.

Uma abordagem muito conservadora é fazer alocações mensais em papéis atrelados ao Tesouro SELIC, seja via fundos de investimento referenciados ao DI ou por meio do próprio Tesouro Direto. Nesse caso, considerando os juros atuais (13,75% ao ano), seria necessário um valor em torno de R$ 3.250 mensais de aporte por quatro anos para conseguir juntar o montante necessário, ou seja, cerca de R$ 813 por pessoa todo mês. Mas os juros não devem ficar nessa faixa por muito tempo, e não se pode ter certeza da cotação do dólar nos próximos anos, então é necessário considerar mais coisas…

Diante dessas possíveis oscilações, inflação do Brasil, inflação dos Estados Unidos e câmbio, é válido fazer uma mudança nessa estratégia conservadora para deixá-la mais adequada a essa poupança dolarizada que a família pretende fazer. Gastos em dólares, coloquemos os dólares na equação.

Uma forma recomendável é fazer com que a poupança mensal seja feita parcialmente em dólares. Que proporção guardar em moeda forte vai depender de quanto o responsável financeiro da família suportaria de oscilações, porque elas vão ocorrer. 50-50 seria um ponto de partida. Para quem não quiser ter dor de cabeça, bancos e corretoras oferecem fundos de investimentos em dólares, alguns dos quais bastante adequados para formação de reserva em moeda forte. Outra opção é comprar dólares por meio de uma conta corrente no exterior ou de contas globais no Brasil. No primeiro caso, o investidor fica sujeito a pagar IR sobre os ganhos que obtiver no fundo (alíquota que vai de 22,5% a 15%, dependendo do prazo – quanto mais tempo, menos imposto – e do tipo do fundo); já no caso das contas globais, por serem contas de disponibilidade, são isentas de IR

É uma viagem importante que marca a vida de todos, adultos e crianças. Fazendo as contas, sabendo onde guardar os recursos e lançando mão de auxílio profissional, dá para garantir o projeto. Aí é só segurar a ansiedade e torcer pelo Hexa!

Denis Gómez Coelho é planejador financeiro pessoal e possui a certificação CFP® (Certified Financial  Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejamento Financeiro. E-mail: [email protected].

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Texto publicado na Revista Época em 28 de março de 2023.

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