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Recebi meu primeiro salário

Recentemente, participei de um bate-papo com estagiários, jovens celebrando o primeiro emprego, investindo nos estudos para acelerar a carreira e apreensivos com o desafio de bancar suas próprias despesas.

Receber o primeiro salário é uma sensação incrível. Ainda me recordo de quando recebi o meu, aos 15 anos de idade, e o entreguei todinho para minha mãe, que fazia mágica com o pouco dinheiro que tínhamos. Certamente o exemplo dela me ensinou muito.

O salário chega sem manual de instrução. A lista de compromissos e desejos é grande, e provavelmente demanda mais dinheiro do que o salário, especialmente o primeiro, é capaz de pagar.

Compartilhei com os jovens minha experiência em observar que as pessoas que se dão bem com as finanças ao longo da vida não são as que ganham muito, mas as que gastam pouco, e planejam antes de gastar.

O primeiro passo do planejamento financeiro tem muito a ver com autoconhecimento, entender como nos relacionamos com o dinheiro, nossos hábitos de consumo, as coisas que são importantes na nossa vida.

Válido lembrar que o dinheiro não tem significado algum, o que importa é o que fazemos com ele. O dinheiro não tem valor em si mesmo, é apenas um meio para realizar nossos sonhos. Se colocarmos propósito, significado, nas coisas que queremos comprar ou realizar, maiores serão as chances de fazermos boas escolhas.

Cada um desses jovens terá o desafio de equilibrar o presente e o futuro, terá vida longa e será seu próprio provedor. Sugeri que construam um patrimônio gerador de renda de tal forma que não se tornem reféns do seu próprio trabalho. Que possam parar de trabalhar um dia e viver dos rendimentos proporcionados pelo patrimônio que sabiamente construíram.

A vida é feita de escolhas. Com dinheiro, não é diferente. Para reduzir a chance de errar, algumas dicas valiosas:

  • Nunca gaste mais do que você ganha;
  • Organize as despesas, separe o que precisa, suas necessidades, do que você quer, seus desejos;
  • Estabeleça limites e pare quando o dinheiro acabar. Não gaste antecipadamente o dinheiro que você ainda não tem;
  • Não faça dívidas, principalmente as impagáveis, contraídas com o crédito rotativo do cartão de crédito e cheque especial. Esse tipo de dívida financia consumo e não constrói riqueza;
  • Use crédito para construir patrimônio: casa própria, seu próprio negócio, seus estudos, são bons exemplos;
  • Não tenha um carro, principal vilão do orçamento;
  • Pague a você mesmo em primeiro lugar, comece com pelo menos 10% do salário e aumente sempre que puder;
  • Aprenda a economizar. Guarde primeiro, gaste depois. Tenha disciplina, guarde sempre, não espere sobrar, não vai sobrar;
  • Investir não é fácil, dá trabalho e requer muito conhecimento. Estude, pesquise e aprenda a investir;
  • Se você não entender o produto a ponto de explicar em detalhes para um amigo ou parente, não invista;
  • Não existe investimento sem risco! Conheça e entenda os principais riscos dos investimentos em ativos financeiros: risco de crédito, risco de liquidez, risco de mercado;
  • Não existe o melhor investimento. Existe o mais adequado para atingir seu objetivo, respeitando seu nível de tolerância a risco;
  • Não acredite em milagres, se parece bom demais pra ser verdade, mantenha distância! Consulte somente fontes confiáveis, sempre.

Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 21/09/2020.

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